Na minha imaginação, desde que o mundo é mundo ele se chama mundo. E o mundo carrega um mundo com ele: espaço sideral, terra, água, pessoa, bicho, objeto, substantivo, número, cor, forma, corpo, alma e mais um infinito de coisas que nem sempre são coisas – como nem sempre são infinitas.
Só o mundo é um conjunto de tudo. Se fosse a junção de nada, certamente não se chamaria mundo. Então da pra sacar que nem o grão da areia é tão pequeno quanto eu, comparada ao universo.
E se existe tudo isso, deve ser realmente um absurdo escrever sobre o PORTA XAMPU que existe em minha casa. Mas não há saída: quero falar sobre esse objeto, cujo qual eu escrevo sem hífen. Ressalto que o problema não é uma dúvida ortográfica. O erro não é meu: é do elemento eternamente solitário, constantemente frágil e frequentemente irritante. Sim! Irritante é o adjetivo mais adequado (por tal motivo, deixei-o por último).
Todos os dias meu banho é uma novela de boxe. E sabe qual a diferença de uma novela assim para a convencional? Eu consigo ficar sem TV, mas sem banho, jamais! Portanto, sou obrigada a absorver uma característica que nunca fez parte da minha personalidade: a famosa paciência.
Preciso respirar profundamente antes de olhar para ele. E, na hora de lavar os cabelos, necessito de um ritual: velas, orações e brados otimistas para que tudo de certo... Mas, frequentemente, não dá. Basta esbarrar no PORTA XAMPU para que os objetos comecem a cair sobre a minha cabeça. É algo rápido, desnecessário e azucrinante. Quando percebo, já está tudo ao chão: prestobarba, máscara capilar, pente, sabonete e saboneteira. Um saco!
Como se a situação em si não me bastasse, vejo a chuva de objetos se repetir quando tento colocá-los novamente no “dito cujo sem hífen”. Então, reforço em pensamento que a vida é mesmo esquisita. E, quanto ao traço de união, faço questão de me explicar: com tantos mundos existentes no mundo, palavras compostas que atrasam minha rotina não merecem sinal diacrítico de pontuação.
(Dalila Lemos)