segunda-feira, 13 de maio de 2013

O DOM DA LEGENDA


Não tenho muitos dons. Mas preciso agradecer pelo dom da legenda. Sou sincera, mas já fui muito pior. Antes eu confundia sinceridade com falta de educação. Tudo errado! Mal educada é a legenda e não a sinceridade!

Me sinto um filme produzido em Hollywood e assistido no Brasil. A legenda às vezes distorce o enredo.  No meu caso, ela cria uma barreira entre o que se deseja dizer e o que se pode dizer. Sim, ainda não chegamos à era da liberdade de expressão... Isso é uma farsa! 

Imagine a situação: por e-mail, recebo convite para uma festa. No convite está descrito traje passeio. Chego à festa e reparo que todos os convidados (MENOS EU) estão com traje de gala. Minha reação: “- Nossa, como vocês estão elegantes! Parabéns”. Minha legenda: “-Ah, sim, entendi, esse traje passeio é pra passear em Paris. Maldita mania minha de querer dar uma voltinha na marginal Tietê!”.

É chato não dizer o que pensa. Aliás, é chato não PODER dizer o que pensa. Já imaginou como seria se eu saísse mundo afora falando coisas do tipo:

- Você é gorda, por isso só posta fotos de comida nas redes sociais.

- Não existem óculos escuros mais cafonas que esses espelhados. Da pra parar de usar essa “coisa”?

- Meu filho, ta na hora de malhar as pernas. Você ta igual um temaki.

- Sua mulher fez pós-graduação em antipatia e doutorado em indelicadeza?

- Não, moça. As unhas não ficaram boas. Na verdade, estão uma merda! Afinal, não ta na hora de você trocar o grau desses óculos fundo de garrafa?

- É claro que eles vão ligar a TV pra assistir às festinhas espalhafatosas do BBB. Geralmente, homem gosta de mulher.

Bom. Eu teria outros quinhentos exemplos, mas é melhor guardá-los comigo. Preciso respirar, contar até dez, contar carneirinhos, contar as estrelas do céu, contar os dias do ano. Preciso fazer contas pra não perder as contas das vezes em que eu pensei em dizer absurdos.

(Dalila Lemos)

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