Uma pena ter perdido. Talvez esteja em algum quarto, trancada numa gaveta ao som de Portishead. Entre as esquinas e os passos apressados. Num dia de domingo chuvoso em que se joga dominó com crianças. Ou então na correnteza daquele rio que te fez afogar com as próprias lembranças.
Pra falar a verdade, você pode ter esquecido com alguém. E talvez esse alguém jamais permita que ela retorne pra você.
Sem ladainha.
Que identidade, Laura? Mas que santa identidade é essa? Você é sem nome. Você é uma reticência perdida no mundo. Sem modos, sem motivos, sem voz, sem você mesma. Pontos jogados na continuação do nada.
Nada de identidade. Nada de contextos.
Até os seus textos perdem-se no palco. Você não tem personagens... Tem fanstasmas!!! E eu prezo pelo dia da sua perda maior.
Que tal apagar da mente essa gente que mente? Não minta pra si. Não minta, porque seria mais fácil se eu pudesse explicar o quanto tentei. Seria mais fácil de você entendesse que destruí todas as folhas do meu calendário durante anos. Eu atrasei os relógios de corda. Dormi feito princesa em dias de frio. E você jamais saiu daquele lugar, Laura! Você jamais saiu de lá!
Até o último momento. Até o último trago. Até o último gole de solidão que tomei. Você no vazio do mundo, com seus fantasmas. E eu trancada naquela gaveta, ao som de Portishead.
(Dalila Lemos)
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