Primeiro eu me senti um tender refrigerado quando entrei no ônibus da viação Resendense. Depois me entreguei ao ar condicionado e decidi sentar no último banco - onde o frio é quase insuportável.
Engraçado que tenho uma mania: gosto de me acomodar na poltrona individual. Isso evita mp3 sem fone e conversas sem intimidade (sim, eu sou antipática durante o percurso porque gosto de dormir). Mas ontem foi diferente: a poltrona individual estava ocupada. Pensei em sentar de frente ao cobrador, mas mudei de ideia e me mandei lá pra trás.
Dormi. Sono leve. Leve o suficiente para acordar com as palavras balbuciadas de uma passageira: “ASSALTO”. Fiquei trêmula!
Um rapaz armado entrou no ônibus como um passageiro comum. Fez sinal e entrou. Pegou todo o dinheiro que estava sob a responsabilidade do cobrador e desapareceu em menos de quinze segundos.
Pensei que meu transtorno acabaria ali. Mas tive o prazer de presenciar a inteligência do motorista que, ao invés de dar partida no veículo, ficou parado na tentativa de ligar para a polícia.
Céus! Mal sabia em qual quilômetro da Dutra eu estava. Não dava pra ver nenhum posto de gasolina por perto. Nada de motel, nada de restaurante, nada de posto rodoviário. Nem telefone para emergência eu conseguia avistar. Ao olhar pra frente eu só enxergava asfalto. Do lado direito, matagal. Do lado esquerdo, matagal.
O ônibus continuou parado e fiquei com medo de o tal assaltante voltar. Então, bateu em mim a síndrome de pobre: tirei meus tickets refeição da carteira e guardei no bolso junto ao cartão de transporte. Que leve o meu celular velhinho ou a minha mochila rasgada, mas meus tickets, nãããoooo!!!
Um século depois, duas viaturas chegaram. Todos os passageiros desceram e foram autorizados a entrar em outra condução com o mesmo destino. Uns foram em pé... eu fui sentada, mas evitei dormir para não atrair outro assalto.
Ah! Esqueci de contar: após fazer a limpa na caixinha do cobrador, o bandido se justificou e disse “desculpa aê”. Assaltou e foi embora educadamente, com pedido de desculpas em linguagem coloquial. Santa educação!
(Dalila Lemos)
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