quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

MEU BRASIL BRASILEIRO

Querido Brasil, essa não é mais uma carta de amor. São pensamentos soltos traduzidos em palavras, para que você possa entender o que eu também não entendo. Na realidade, essa é uma carta de despedida. E ainda questiono: se até o Kurt Cobain se despediu formalmente, por que eu não deveria fazer isso? Faço com convicção destacada e esperança de que um dia o Jota Quest faça o mesmo. Agora vamos ao que interessa...

Brasileiro tem uma mania um tanto quanto simplória de sentir saudade. Comemora-se o dia da saudade, expõe-se que a palavra existe somente na língua portuguesa e, como se não bastasse, acabo de descobrir que uma empresa britânica divulgou a palavra como a sétima mais difícil do mundo para traduzir. Então, querido Brasil, você olha pra mim e pergunta: “o que eu tenho a ver com isso?”. Instantânea como um macarrão, eu respondo: “não sinto saudade da sua hipocrisia”.

Quanto mais penso em você, mais difícil se torna o nosso relacionamento. Uma das minhas últimas reflexões foi sobre a moeda brasileira. Que coisa mais feia, hein: estampar dinheiro com animais em extinção! Posso não ter doutorado, mas sei que muitos animais foram extintos por causa dessas notas em que eles aparecem.

E não para por aí! Você está prestes a assumir, definitivamente, o posto de sétima maior economia do mundo. São U$$2,3 trilhões espalhados no cabelo preto da Xuxa, no emagrecimento do Ronaldo, nos gols do Neymar, no “cotão” mensal dos deputados, na “fugidinha” do Michel Teló... E, enquanto isso, eu busco explicações por ter tropeçado em um mendigo ontem à noite. Aliás, eu também tento entender com qual finalidade alguns hospitais públicos usam luva látex ao invés de fita de borracha para colher sangue.

Brasil! Meu Brasil brasileiro. Você não entende que 27 bilhões de reais é muito dinheiro para sediar 64 partidas de futebol. Você não percebe que, enquanto um único capítulo de novela gera energia equivalente a duas usinas nucleares de Angra, os livros entram para o recorde do “era uma vez”. Você não assume que os indivíduos que criam as leis são os mesmos que violam as normas. Você não admite que, só em um país subdesenvolvido, as classes C e D tem acesso aos carros e não tem acesso ao transporte público de qualidade.

Até o seu sexo é falho! Você não preza o controle de população com medidas de preservação sexual e, sim, cria programa de transferência de renda para beneficiar famílias em situações de pobreza. Será que é tão difícil entender que essa transferência de renda vai da população para ela mesma? Tudo não passa de um retorno de impostos, juros, taxas... Tudo não passa de uma manipulação.

E como se não bastasse você, ainda tem suas amizades. O seu amigo Bradesco, por exemplo, teve a audácia de me cobrar três anos de tarifas bancárias referentes a uma conta que não é mais movimentada desde 2009. Dívida que totalizou em mais de dois mil reais. Valor que não tenho como pagar, pois o meu piso salarial de jornalista é inferior a ele.

Desculpe-me, Brasil. Não tenho condições de prosseguir. Encerro nosso relacionamento, pois estou indo embora.

Talvez eu me mude para a China e faça tapetes com crianças do sexo feminino. Não! É melhor ir para Chade me aventurar com agricultura e pecuária de subsistência. Também não! Afeganistão, quem sabe, com sua interminável guerra civil.

Ok, Brasil. O problema não é com você, é comigo! Decidi ir pra Marte.

Adeus!

(Dalila Lemos)

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