sexta-feira, 29 de novembro de 2013

PERSONAGENS

Posso fingir que sou uma personagem dos livros encalhados na prateleira? Ou então, uma cigana - sem chão e sem fronteiras? 

Posso ser Freud (ou apenas a dita loucura dele). Mas você tem que deixar... E tem que prometer que promessas não são apenas palavras jogadas no espaço. 

Você tem que desligar essa maldita água do café e me ouvir. Precisa me explicar porque não posso. Precisa delimitar esse limite, que tem uma marca no marco.

E fazer silêncio. Prender a respiração até perder o fôlego.
E esquecer por um momento. Pra depois começar de novo.

Você tem que calar minha boca às oito. E às nove, abandonar seus vícios.

Você tem que deixar... Mas precisa aumentar o volume às dez.

Eu posso fingir ser Peter Pan, enquanto meus dias não se transformam em nada de diferente. Mas você tem que deixar, enquanto se perde na neblina que embaça a janela.

É necessário: a pausa. E os desejos. E os contrassensos. 
É lógico: a causa. E as consequências. E os ponteiros.
É tolo: o tédio. E o pretérito. E a ofensa.

Escute o barulho da chuva, Laura... É uma faca! Os fragmentos estão ao chão.

E eu posso ser Chaplin. Pobre Carlitos! Mas já são mais de onze e você precisa desligar a TV.

No escuro, meus olhos não fecham. 
Eu tenho um nó na garganta. 
Meus fantasmas sentem medo.

... Mas você não deixa! E se eu não posso, não existo.


(Dalila Lemos)

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