sexta-feira, 29 de novembro de 2013

EU E MEU TIC-TAC


O trânsito na Rodovia Presidente Dutra não é dos melhores. Algumas vezes fico presa enquanto tento voltar pra casa. E não tem como falar de ação sem pensar em reação... Refletir sobre o mundo é uma forma de reagir a tanta espera.

O mal não é ficar parada. É estar presa! Como agüentam os pássaros engaiolados? Se eles têm asas, por que não podem voar? Para esses e outros questionamentos só defino uma resposta: a liberdade é uma farsa.

Aquela velha conversa de que temos o direito de ir e vir é uma mentira genuína. Uma simples obra na estrada ou acidente que o valha, paralisa mais de mil vidas. Vidas presas e aglomeradas em veículos automotivos – estes dispostos sobre o asfalto, que traçam caminhos inevitavelmente influenciados para que ninguém chegue a lugar nenhum. Não existe liberdade na estagnação do trânsito. Na fluência da vida também não! 

Não somos livres pra nascer, salvo sob registro na certidão, autenticado no cartório, com formulário de requerimento preenchido e assinado pelo declarante. Não somos livres para morrer, salvo sob o pagamento dos impostos funerários.

Temos uma pseudoliberdade escondida na repressão dos manifestantes, na denominação de democracia, na imposição de status, na rotina e nas escolhas. Temos um mundo nas costas! E carregamos: os juros, os passaportes, as concessões, as taxas de deslocamento, as asas cortadas. 

Podemos ver a história passar entre as molduras da janela, mas fazer parte da nossa própria história torna-se caro (no sentido material e imaterial), pois já não somos livres nem para optarmos pela vida. 

Essa prisão me deprime e a única alternativa é fechar os olhos para imaginar a imensidão do mundo. Enquanto isso, ficamos a sós: eu e meu Tic Tac. Quisera o relógio! Mas me refiro à bala que sacia meu organismo com duas calorias a cada quilômetro de congestionamento.

(Dalila Lemos)

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