quarta-feira, 15 de setembro de 2010

PURA ESCASSEZ

O dia tem 24 horas. Tendo em vista o fato de que é necessário dormir pelo menos 8 horas, restam 16 horas para fazer uma infinidade de coisas como acordar, tomar banho, comer, escovar os dentes, pegar ônibus, ir pro trabalho, almoçar, pegar ônibus de novo, ouvir música, tomar banho novamente, assistir aula e, por fim, a mais importante delas: lembrar daquela sua professora de português da terceira série que encomendaria sua morte se visse as palavras “horas” e “tempo” sendo repetida tantas vezes.

Pelos motivos acima citados, proponho uma observação: o tempo que temos não costuma ser suficiente para que possamos fazer programas agradáveis como sair com os amigos, beber alguma coisa, colocar a conversa em dia, namorar e etc. Isso acarreta em noites mal dormidas, pois precisamos roubar algumas horas de sono para que o cotidiano não seja feito apenas de compromisso.

Como se não bastasse tanta afobação, ainda corremos o risco de perder alguns momentos preciosos com pessoas macambúzias que, de uma forma ou de outra, precisam manter o contato e a comunicação. Essa parte não é apenas cansativa como um tanto quanto estressante.

Não é justo falar em pessoas macambúzias sem citar uma outra espécie que requer cuidados específicos, como a dos ‘arrimos’. Em situações como essa penso até em ligar pra tal professora de português, mas olho para o relógio e decido explicar por aqui mesmo: arrimo é uma palavra usada gentilmente para substituir outra, que seria encosto. Sendo mais específica, diria que esse tipo de pessoa, ou melhor, esse tipo de palavra, agride o vocabulário de qualquer ser humano e mostra como há iniqüidade no mundo, já que somos obrigados a perder o pouco tempo que nos resta tentando não empregar essa palavra nas frases da nossa vida.

Frases por frases, diria que todas essas já escritas foram desenvolvidas com a finalidade de mostrar que não sobra tempo para nada, nem para os santos. Tomemos um exemplo: existe o São Longuinhos - que é o responsável pelos objetos desaparecidos, o São Pedro - que é responsável pela chuva, o Santo Expedito – responsável pelas causas impossíveis e mais um acervo de santos para um cúmulo de funções. Agora uma pergunta que não quer calar: você já ouviu falar em alguma santidade responsável pelo tempo? Não existe! O tempo não foi o suficiente para essa criação ou, no mínimo, as horas foram escassas para que pudessem divulgá-lo.

E não é só com os santos. A própria natureza, apressada, foi obrigada a inventar qualquer animal ao invés de três e nomeá-lo como ornitorrinco (um mamífero, com bico de pato e pêlo). A nossa língua pátria foi forçada a substituir a expressão “vós micê” por “você”, a fim de economizar um único segundo. As pessoas foram coagidas a viver sob a citação do “não deixe para amanhã o que se pode fazer hoje”. Todos esses exemplos para ilustrar a falta de tempo habitual.

Por essas e outras (e muitas outras) que afirmo: os dias deveriam ter, no mínimo, 36 horas. Concorde quem quiser, afinal, pra mim, uma boa opinião é como tempo: pura escassez!

(Dalila Lemos)

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