quarta-feira, 15 de setembro de 2010

PASSAGEM

A porta está aberta: o silêncio já pode entrar! Aqui não venta forte como lá fora e as gotas não vêm da chuva, são apenas lágrimas. É choro de criança que gosta de brincar de pique-esconde. São pingos na janela, nas cortinas, no chão. É coisa de gente nova ou velha...mas é coisa de gente. E gente que é gente tem seu espaço ao entrar por essa porta.

A tristeza precisa de companhia. Arrume as malas e traga a saudade, a fantasia, o delírio e o que mais couber na bagagem. Mas não demore, e por favor, venha calado. Assim o quarto fica cheio de segredos.

As chaves trancam e abrem os desejos. Os lençóis cobrem e descobrem o medo. A realidade se transforma num rabisco.E por mais que blasfemem, sempre há espaço para que o silêncio fique entre beijos e palavras.

É possível acordar sob as condições do relógio e, junto à pressa dos ponteiros, colocar um guarda-chuva na bolsa. Lá fora, quem mastiga o infinito faz seu próprio tempo e caminha em passos lentos para se divertir com a tempestade.

Sexo. Sonho. Súmula. Saliva. Meu céu é o inferno! Aqui dentro, sem saber pra onde vão os gostos, as noites, os dias. Sem saber de hoje, amanhã, de nada e nunca. Apenas ouvindo o vento. Insistente. Teimoso. Determinado. Tentando trancar a porta que eu sempre deixo aberta.

(Dalila Lemos)

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