Foi no balcão de uma loja lotada que me dei conta dessa descoberta: eu era a cliente exterminadora que não enchia os olhos do patrão e ainda tomava o tempo da funcionária. Estava ali com o único propósito de comprar um presente.
Entre olhar uma peça ou outra de roupa, escolhi a terceira opção: implorar aos deuses para que toda propaganda verde e amarela não tingisse meu cérebro com as cores do Brasil. Mas inventaram a Copa... e se não fosse certa repulsa por ambientes superlotados, compraria uma camisa oficial da seleção (e não aquele moletom flanelado).
Acreditei ter desperdiçado a oportunidade rara de comprar um presente para o dia dos namorados que também fosse útil aos dias de jogos. Pensamento até bem comum, característico dessa era convergente que inventaram.
Embrulhei minhas idéias e entrei no ônibus. Amassei minhas idéias e desci do ônibus. Fui pra casa apressada e, quando cheguei, escolhi um lugar simplório para guardar o embrulho.
Normalmente, eu ouviria o soar da campainha... mas inventaram o celular! O toque em MP3 substituiu o verbo chegar, na primeira pessoa do singular, no modo indicativo e tempo presente. Coloquialmente resumindo: a única pessoa que eu esperava já estava em minha casa e tudo indicava que a hora de entregar o que comprei era aquela.
Escutei-o dizer que a escolha foi boa: senti necessidade de explicar por que desisti de comprar a camisa do Brasil. Escutei-o dizer que trocaria o outro presente: senti obrigação de perguntar o motivo. Então, escutei-o dizer que não torcia pela seleção brasileira e imaginei que aquela frase fosse uma invenção.
Após alguns dias, nosso país se transformou em futebol. Observei o comércio com as portas fechadas, ouvi sobre outros países que, até então, estavam aprisionados nos livros de história. Sem contar que me vi cercada por objetos de nomes obtusos, tipo a vuvuzela, que aparentemente, existem apenas de quatro em quatro anos.
Bastaram alguns segundos para que todo verde e amarelo se congelasse numa imagem. Entre as cores da torcida, lá estava ele: vestindo uma camisa laranja da Holanda, gritando ‘Flamengooo’ e ansiando um gol do time adversário. Naquele momento pensei: “inventaram meu namorado!”.
(Dalila Lemos)
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