quarta-feira, 15 de setembro de 2010

MERAS INVENÇÕES

As pessoas inventam coisas. Certamente relevantes, casuais, absurdas ou até assustadoras! Empregadores inventam estratégias para elevar as vendas em datas sazonais. Empregados inventam conceitos mirabolantes para trabalhar menos que o esperado e clientes inventam um modo de exterminar as invenções de ambos.

Foi no balcão de uma loja lotada que me dei conta dessa descoberta: eu era a cliente exterminadora que não enchia os olhos do patrão e ainda tomava o tempo da funcionária. Estava ali com o único propósito de comprar um presente.

Entre olhar uma peça ou outra de roupa, escolhi a terceira opção: implorar aos deuses para que toda propaganda verde e amarela não tingisse meu cérebro com as cores do Brasil. Mas inventaram a Copa... e se não fosse certa repulsa por ambientes superlotados, compraria uma camisa oficial da seleção (e não aquele moletom flanelado).

Acreditei ter desperdiçado a oportunidade rara de comprar um presente para o dia dos namorados que também fosse útil aos dias de jogos. Pensamento até bem comum, característico dessa era convergente que inventaram.

Embrulhei minhas idéias e entrei no ônibus. Amassei minhas idéias e desci do ônibus. Fui pra casa apressada e, quando cheguei, escolhi um lugar simplório para guardar o embrulho.

Normalmente, eu ouviria o soar da campainha... mas inventaram o celular! O toque em MP3 substituiu o verbo chegar, na primeira pessoa do singular, no modo indicativo e tempo presente. Coloquialmente resumindo: a única pessoa que eu esperava já estava em minha casa e tudo indicava que a hora de entregar o que comprei era aquela.

Escutei-o dizer que a escolha foi boa: senti necessidade de explicar por que desisti de comprar a camisa do Brasil. Escutei-o dizer que trocaria o outro presente: senti obrigação de perguntar o motivo. Então, escutei-o dizer que não torcia pela seleção brasileira e imaginei que aquela frase fosse uma invenção.

Após alguns dias, nosso país se transformou em futebol. Observei o comércio com as portas fechadas, ouvi sobre outros países que, até então, estavam aprisionados nos livros de história. Sem contar que me vi cercada por objetos de nomes obtusos, tipo a vuvuzela, que aparentemente, existem apenas de quatro em quatro anos.

Bastaram alguns segundos para que todo verde e amarelo se congelasse numa imagem. Entre as cores da torcida, lá estava ele: vestindo uma camisa laranja da Holanda, gritando ‘Flamengooo’ e ansiando um gol do time adversário. Naquele momento pensei: “inventaram meu namorado!”.

(Dalila Lemos)

Nenhum comentário:

Postar um comentário