quarta-feira, 15 de setembro de 2010

IRRITANTEMENTE VERDE

Coisa irritante no mundo é não ter tempo para escrever um texto e, ao faze-lo, ver algumas de suas frases sublinhadas do início ao fim.

Certa vez um amigo me disse que o Microsoft Word é um programa idiota. Eu contra-argumentei, dizendo que o importante pra mim era a praticidade. Sinceramente, abriria mão do meu comentário se naquele momento sentisse a mesma raiva de ontem.

Escrevia um texto para outra coluna quando um trecho foi sublinhado. Geralmente, quando acontece isso, é sinal de que alguma coisa está errada. Mas a sublinha não era vermelha, daquelas que indicam perigo ou tentam te dizer “sua acéfala, não é assim que escreve essa palavra ridícula!”. Tratava-se de um sublinhado verde, cor fria e calma, que poderia representar tudo menos uma incoerência.

A seguinte frase foi premiada: O relacionamento com os meninos era diferente. O Word grifou desde o começo até a palavra diferente. E digo mais: aqui pra mim continua grifado. Tudo bem, seria muito exigir que programas de computador fossem inteiramente inteligentes ou eficazes, entretanto, o que me tirou do sério foi sua intervenção.

Todos nós sabemos que basta clicar com o botão direito do mouse em cima do problema que imediatamente as soluções aparecem. No meu caso não. Eu já sabia que a concordância estava certa, me lembrei até de algumas perguntinhas estúpidas que a professora ensinou a fazer antes de empregar o verbo. Mas quis ser humilde e tentei utilizar a técnica do botão direito. Duas opções apareceram pra mim: sendo a primeira sem sugestões e a segunda, ignorar sentença.

Refleti sobre a primeira opção. Pra mim, o ocorrido foi episódio irrefutável. Pensei em uma reunião no departamento de criação de uma agência de publicidade, onde o objetivo era colher idéias para a criação de um anúncio. Durante a reunião, a secretária que chega para servir cafezinho escuta uma das idéias e diz em alto e bom tom: “- não gostei disso, não”. Espantado, o chefe da agência pergunta para a secretária: “- você sugere algum outro conceito?”. E ela responde “- de forma alguma”. Foi exatamente isso que o Word fez.

Considerei a segunda opção, que me parecia justa, afinal, ignorar sentença significaria fingir que aquele sublinhado verde jamais existiu. Me enganei novamente e a alegria durou apenas alguns segundos, pois tive que iniciar um outro parágrafo e tudo voltou a ser como antes.

Cheguei a uma conclusão que supera a opinião do meu amigo: o Word se assemelha àquelas pessoas audaciosas, que se sentem donas da verdade. E ai de quem pense em discutir!

(Dalila Lemos)

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