Já que a mim não cabia utilizar o teclado de um computador para fazer com que as letras virassem frases, decidi praticar algo então esquecido. Para isso eu precisava furtar um lápis na mesa situada em frente à minha e incluir idéias quaisquer no papel que, visivelmente, estava tão vazio quanto a imaginação.
Duas ou três palavras foram suficientes para que o tempo avançasse descontrolado e o ponteiro marcasse a hora do almoço. Eu ainda não sabia o que fazer com aquela folha branca e lápis recentemente apontado por um estilete. Então decidi sair para almoçar, pois não me ajudariam a correria e o barulho do sapato alto pisando no local onde eu me mantinha quieta.
E foi na hesitação da rua, longe da ansiedade escondida em cada atualização de página da web, que descobri motivos para preencher o vazio misturado à minha bagunça. Eu poderia transformar qualquer fato em prosa ou verso: uma fofoca do dia, um rasgão na calça, um moço bonito... até mesmo um mendigo repudiado por outrem seria desigualmente analisado e desvendado em frases.
Era mais simples que reaprender a andar de bicicleta. E tornou-se cada vez mais agradável deslizar a grafite pelos claros da folha. Naquele momento eu consegui me enxergar como há muito não fazia e descobri que em mim, além de desejos utópicos, existia algo de muito valor: um papel escrito à mão.
(Dalila Lemos)
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