quarta-feira, 25 de abril de 2012

REVIRAVOLTAS DA VIDA


Gostava de um garoto quando eu tinha treze anos. Ele usava uma touca de lã roxa na cabeça, tinha uma barba alaranjada, olhos verdes e uma cara de quem não curtia meninas da minha idade. Era vocalista de uma banda de rock. Hard-core. Gritaria. Ou algum barulho do tipo.

A banda chamava Distúrbio Sonoro (para os íntimos, DS). Ele gritava trezentas palavras por segundo e eu achava aquilo lindo! Tão lindo que, após um dos shows, lá estava eu na papelaria, comprando um caderno com a mesma sigla da banda. Na verdade, o caderno não tinha nada do Distúrbio Sonoro... Mas pra mim, qualquer coincidência era bem vinda.

Eu ia a lugares diferentes, falava com desconhecidos e até desmarcava alguns compromissos por causa do garoto. Um dia, fui parar no show do Ultraje a Rigor e o avistei de longe conversando com uma menina.

Ela era estranha: usava uma bermuda jeans toda rasgada, camisa do kiss abaixo do joelho, alfinete no lugar do brinco e ainda tinha um cabelo manchado de tinta vermelha. Minha melhor amiga, Ana Carolina, estava comigo e duvidou que os dois se beijariam. Não deu em outra! Ficaram grudados a noite inteira.

Dormi aos prantos e acordei revoltada. Cortei o cabelo e todas minhas calças jeans. Comprei blusas maiores que eu e CD's capazes de destruir qualquer biblioteca musical. Nem com tanta mudança, ele me olhou.

O tempo passou.

Eu não tinha mais nenhuma roupa rasgada. Usava vestidos, ouvia MPB, mantinha o cabelo longo.

Ele não usava mais a toca roxa e nem beijava a menina dos alfinetes na orelha.

Nós ficamos amigos.

Depois ficamos um pouco mais que amigos.

Depois namoramos.

E hoje moramos na mesma casa.

(Dalila Lemos)

Nenhum comentário:

Postar um comentário