
A banda chamava Distúrbio Sonoro (para os íntimos, DS). Ele gritava trezentas palavras por segundo e eu achava aquilo lindo! Tão lindo que, após um dos shows, lá estava eu na papelaria, comprando um caderno com a mesma sigla da banda. Na verdade, o caderno não tinha nada do Distúrbio Sonoro... Mas pra mim, qualquer coincidência era bem vinda.
Eu ia a lugares diferentes, falava com desconhecidos e até desmarcava alguns compromissos por causa do garoto. Um dia, fui parar no show do Ultraje a Rigor e o avistei de longe conversando com uma menina.
Ela era estranha: usava uma bermuda jeans toda rasgada, camisa do kiss abaixo do joelho, alfinete no lugar do brinco e ainda tinha um cabelo manchado de tinta vermelha. Minha melhor amiga, Ana Carolina, estava comigo e duvidou que os dois se beijariam. Não deu em outra! Ficaram grudados a noite inteira.
Dormi aos prantos e acordei revoltada. Cortei o cabelo e todas minhas calças jeans. Comprei blusas maiores que eu e CD's capazes de destruir qualquer biblioteca musical. Nem com tanta mudança, ele me olhou.
O tempo passou.
Eu não tinha mais nenhuma roupa rasgada. Usava vestidos, ouvia MPB, mantinha o cabelo longo.
Ele não usava mais a toca roxa e nem beijava a menina dos alfinetes na orelha.
Nós ficamos amigos.
Depois ficamos um pouco mais que amigos.
Depois namoramos.
E hoje moramos na mesma casa.
(Dalila Lemos)
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