
Na quinta-feira passada, o Flamengo jogou às sete e meia. Saí do trabalho às seis, peguei um ônibus lotado e subi um morro com certos quilômetros de altura. O jogo não foi transmitido em TV aberta devido à exclusividade de um canal por assinatura, então, o que restou foi a opção de assiti-lo no boteco.
Houve problema: o lugar não teve metros quadrados suficientes para acolher a torcida rubro negra. Vi cerca de quarenta homens disputando espaço com algumas mesas e cadeiras. Percebi também que o jovem garçom quase teve uma síncope por causa de tamanho movimento.
Para assistir à jogada, alguém conectou a internet no notebook e projetou as imagens no telão. Hora ou outra, a transmissão travou e deixou a galera aos gritos de interjeições: "ah", "hi", "poxa"... E por fim, uma nova adaptação: "porra".
Achei legal estimar que, a cada mil palavrões que os homens já falaram na vida, novecentos e noventa e nove foram durante partidas de futebol. Curiosa também a suposição de que os xingamentos não variaram de uma pessoa a outra: foram idênticos de acordo com os lances.
Xingar enquanto dois times disputam a maior quantidade de gols tornou-se comum até perto das crianças pequenas. Alguns pais já liberaram para os filhos a exceção dos palavrões: durante o jogo, pode. Também infrigiram a lei do silêncio com berros esportivos após às dez da noite.
Teve gente que ficou bêbada no boteco, mas não abandonou a causa. Um homem que passou todo o tempo encostado no balcão bebendo cerveja, resumiu sua paixão pelo flamengo em apenas um brado: Deeeeiiiiviiiiddd . O dono do notebook berrou gooolll; o sujeito, Deeeeiiiiviiiiddd. O cara da primeira mesa falou sobre o juíz; o sujeito falou Deeeeiiiiviiiiddd . O povo disse juíz, joel, zagueiro, atacante, bola, tempo, substituição. O sujeito, Deeeeiiiiviiiiddd .
Naquele dia eu conheci o Emelec. Por segundos pensei que o Equador não tivesse nada muito além de narcóticos e rondador, mas errei: lá existem onze jogadores para competir com o Mengão e perder de um a zero.
O gol foi do Vágner Love... mas minha mente ficou ao infinito som de Deeeeiiiiviiiiddd .
(Dalila Lemos)
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