Foi um domingo atípico em que estive sozinha por alguns instantes. O sol, radiante, iluminava a rua. Eu saí apenas com a intenção de fazer companhia para minha mãe, mas voltei para casa com um DVD do Tom Jobim nas mãos.
Guardei meu maestro brasileiro na gaveta e peguei um livro do Paulo Coelho. A decisão foi difícil e, ao mesmo tempo, importante. Eu quis me livrar da péssima mania de dizer que não gosto de algo sem antes experimenta-lo. E fiz por opção, para tudo ser mais gostoso.
A página vinte e dois me martirizou, mas mastiguei as folhas seguintes. Degustei cada trecho como se fizesse parte dele. Mergulhei naquela deserta alquimia, onde existiram amores sem pressa e sonhos sem limites.
Sem perceber, o livro chegou ao fim e eu cheguei à conclusão de que faltou algum motivo capaz de me contagiar. Procurei o tal pretexto no DVD do Tom e encontrei Gal Costa cantando ‘Dindi’. Acredito que fiquei imóvel durante outras cinco músicas, enquanto aquela melodia repercutia em minha mente.
Pela primeira vez, mesmo sem ninguém ao meu lado, eu não me senti sozinha. Encontrei-me na bagunça do quarto, no vento que me chamou pela janela e nos discos esparramados pela cama. As horas passaram e eu percebi que as paredes eram apenas um pouco de mim. Então, pedi à rua que me esperasse e fui ao encontro dela.
Lá fora, com o mundo sob meus pés, enxerguei a multidão abafada. Por um momento, percebi que meu amigo desconhecido estava certo: um dia eu optaria por outros amigos e lazeres.
Ignorei a monotonia das frases feitas, a garrafa de cerveja, as conversas sobre futebol. Olhei para o céu e optei pela estrela mais brilhante. Naquele momento eu me escolhi.
(Dalila Lemos)
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