Mas eram duas e meia da manhã. Agora está frio, está escuro, está deserto. Apenas você a andar pela casa e chamar por mim. Eu diria que estou ficando louca se não fosse tudo tão parecido. O relógio contando o fim, a noite te arrastando – incapaz você de andar com as próprias pernas, causando inconsciência e provocando um incômodo incomparável a qualquer outro.
Tenha calma. Coma mais uma unidade, toma mais um gole, dê mais um trago. Não me encha, Laura! Quero ficar sozinha. Não tenho tempo o suficiente para compreender suas loucuras. Sim, loucuras suas! Pode estar louca pela diferença.
Perdoe-me por ser tão imperativa, caso contrário você me domina. Abra sua gaveta, lá você encontra tudo que precisa. Hei menina, pense bem, pode ser mais complicado do que pensa. É muito alto, seria uma queda e tanto. Capa de jornal se você não estivesse sozinha. Uma puta matéria se eu não estivesse sozinha. Perfeição se não estivéssemos sozinhas.
E eu caminho por aí enquanto a noite te arrasta. É impossível falar em simetria, é inútil fazer você entender que não tenho explicação para o que sou e mesmo assim continuo sendo. Suas idéias talvez estejam em algum lugar muito distante, eu sei... próximo demais daqui.
Vamos fazer um trato? Você come meus olhos de mel, enquanto embaço seus olhos de vidro. Demoraria uma eternidade. Talvez seja melhor quebrá-los: os olhos e o perigo. Como em todas as vezes que me vi juntando cacos. Entre tantas outras que nos vimos distante. Está tudo preto agora.
(Dalila Lemos)
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