A árvore de Natal estava montada e enfeitava minha alucinação. Esquecia o relógio, os compromissos e o atual. O único presente que eu segurava era uma caixa pequena, envolvida por uma fita prateada. Há anos atrás eu estava sentada ao lado dessa mesma árvore, olhando ansiosamente para a janela à espera do Papai Noel.
De tudo aquilo, sobrava apenas uma certa agonia por saber que meus desejos eram diferentes. Não havia carta para pedir presentes, os brinquedos já não me interessavam e o que eu mais desejava não estava ao alcance da figura lendária de barbas brancas e vestimenta vermelha. Era o primeiro Natal sem o silêncio do meu pai...
Sentir saudade me incomodava naquele momento, porque não havia apenas recordações de coisas que deixei de viver por opção ou por amadurecimento. Minha lembrança maior era de uma pessoa que se perdeu de mim sem deixar aviso e sem me conceder espaço para mostrar o quanto eu a amava. Havia um vazio. E esse vazio só podia ser preenchido por lembranças de épocas que não voltavam mais.
No ciclo vicioso do verbo lembrar, um pensamento me conduzia a outro. Algumas lágrimas caíam enquanto eu tentava entender o tempo e o sentido de viver. Aos poucos, a casa enchia, o som aumentava e eu perdia meu espaço para o autoquestionamento.
Ainda imóvel, fazia de conta que estava tudo bem... até perceber que realmente estava. Os olhos do meu sobrinho se fixavam nos meus e, em pouco tempo, um sorriso refletia em mim. Não existia nada mais bonito que a inocência daquela criança! Qualquer dor que a saudade me trazia, era então apaziguada pelo entendimento de que a vida é um rio em constante movimento.
Nada parava por ali. Eu sabia que viver me faria perder, mas também ganhar. Aos poucos, a nostalgia se transformava em algo mágico: na certeza de que a saudade era fruto de lindos momentos já vividos. Reinava então o espírito de Natal!
(Dalila Lemos)
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