quinta-feira, 17 de março de 2011

APENAS UM DIA

Tive um dia ruim. Nada exagerado como os romances de Shakespeare nem tão detalhista como os textos de Assis. Foi apenas um dia. Foi apenas ruim.

Perdi o sono às quatro da madrugada. Revirei-me na cama tentando eliminar ideias, mas as próprias ideias me eliminaram. Eu fui, por um momento, conduzida às lembranças de um velho tempo (definido como outrora por alguns poetas decantados).

O passado me consumiu tão completamente, que não pude negar um receio pelo futuro. Meu amor nunca foi meu... meus amigos também não. Pessoas estiveram ao meu lado movidas a interesses egoístas, vivendo em função dos benefícios próprios.

Refletindo sobre isso, senti medo, um temor desmedido de que tudo se repetisse. Pensei, por um momento, se seriam meus erros os responsáveis por toda essa hostilidade. Mas não encontrei nenhuma resposta que me convencesse disso.

Os ponteiros andaram algumas vezes e eu permaneci com a cabeça sobre o travesseiro. Quis encontrar um antídoto para o mundo. Quis descobrir maneiras de devolver ao perdão sua necessidade; à sinceridade, sua importância; ao amor, sua essência e à amizade, seu valor.

Realmente senti obrigação de colorir o mundo para que os corações pulsassem um sangue mais vivo e os olhos enxergassem mais nítido o verde da natureza. Então, devolvi a alma ao corpo e uma sensação de alívio dominou-me. Naquele instante, a insônia venceu a luta pelo sono e eu me rendi a ela.

Levantei-me, tomei um banho demorado, vesti a primeira peça que avistei no guarda-roupa e escolhi o calçado mais confortável. Iniciei um novo dia a partir dali. Um dia que não dependia de mais ninguém além de mim. Um dia melhor. Um dia de dar bom dia, de sorrir para a vida, de eliminar o que for defeito e restaurar o que for qualidade. Apenas um dia bom. Apenas meu.

(Dalila Lemos)

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