Um dia inventaram que modelo tinha que ser magra.
... Que mulher bonita tinha que vestir 34.
... Que as lojas de roupa tinham que vender peças tão pequenas ao ponto de servir em crianças de 10 anos.
Ana Carolina Reston morreu.
Karen Carpenter morreu.
(E as revistas que divulgavam padrão de “corpo perfeito” triplicaram as vendas).
Depois veio o lance de novela infantil, que satirizava o gordinho com comida na boca até enquanto dormia.
Tinha atriz que fazia cirurgia plástica. Cantor que fazia lipoaspiração. Cantora que não se alimentava na gravidez por medo de engordar.
Violência simbólica!
Adolescentes de 16 anos com vigorexia, consumindo 80% do dia com incansáveis atividades físicas.
Namorados cheios de ameaças e namoradas que contavam as calorias do jantar romântico.
Violência do espírito!
Violência da existência.
Aquela barreira, entre a saúde e a indução, perdeu o sentido (se é que algum dia o teve). E ficou difícil de pensar em algum modo de ter opinião com três biscoitos de água e sal no estômago. Ficou difícil ser alguém longe das capas de revista ou dos vídeos ditos sensuais. Sobreviver com 1,74m e 40 kg sobre trilhos e poses tornou-se comum... A essência é que se tornou inusitada.
(Dalila Lemos)