quarta-feira, 11 de julho de 2018

FUGA

Eu olhei as nuvens refletindo na poça d'água que se formou no desgaste do asfalto. Pensei sobre a vida e sobre o que estou fazendo dela, com esse coração que fica onde acha o lado bom em um canto. Eu, que sempre enfrentei tudo, me vi em desespero.

E ainda que sorrindo - em total desespero - entre crises e fantasmas e barulho de chuva e um tanto de frio e um pouco de mim embaçado, supliquei.

Eu que já enfrentei a distância, os codinomes, as falhas, as consequências. Eu que desafiei os deuses, encarei o tombo, superei o abuso, confrontei as aparências, fitei o perigo. Eu, que me desacelero quando as nuvens passeiam do céu ao chão, só imploro que, ao menos uma vez, tenha o direito da fuga.

(Dalila Lemos)

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