A uma dúzia de palavrões ele se resumia. Saliva ardendo cada dose de cachaça e, mesmo que ébrio ou sóbrio ou coisa nenhuma, para si justificava: instinto, que perdura.
Já passava das três. E quando chega qualquer hora, não há instante para o domínio. Tem um quê de muro de concreto, corpo, carne, imensidão do desejo. E as vadias! As malditas vadias!
Dava pra ver poeira nos livros. Eles não significavam nada, absolutamente nada sob a luz tênue no balcão. O que importava era o cheiro por debaixo do vestido, a língua trincando entre os dentes, mais uma dose, o impulso. E a coisa ia de tal forma, que só sobrava sinal de silêncio. As palavras misturavam-se ao pó, caladas à força no epílogo.
A recusa se perdia porque negando eram putas, e aceitando eram também. Do constrangimento à excitação: verdadeiras putinhas, quase imprestáveis não fosse uma ou outra pretensão. Vadiazinhas de merda, frustradas, visionárias; consumidas pela ânsia de um lençol amarrotado, um chão gélido, uma parede suja e um resto qualquer de solidão.
Mas a conta sempre fechava com conivência à nostalgia. Havia incessantemente uma rua qualquer, um pássaro qualquer, um banco de praça qualquer e um qualquer de qualquer jeito que trazia melancolia. Às vezes o café, a leveza de uma conversa, a delicadeza do cuidado. Às vezes o próprio teto, uma melodia, o calor do abraço, o sol refletindo saudade. Ah, como seriam putas as tuas putas se ao menos putas fossem!
(Dalila Lemos)
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