Foi pipa no céu. O movimento leve das coisas que o vento ergue, que o vento leva. A gente nem sempre compreende quando não se basta: derrama o abecedário e observa, estático, a imensidão do universo.
A princípio assusta porque não cabe tudo que não foi possível fazer. As três folhas da prova de matemática, uma cidade, a Aurora Boreal, 21 km. Não dá para conter as noites mal dormidas de quando o tempo escapou pelos dedos sem aviso prévio ou daquilo que era muito e se despediu.
É normal não entender. Nem Noturno de Chopin exclamando reticências nem a desconexão do quanto pesa quando você não deve, mas quer.
A vida tem disso em cada lacuna. Tem um espaço. Um amigo que foi embora, um capítulo não lido, um nó na garganta de outros nós que se desfizeram no meia da rua. Somos vulneráveis pra transcender limites!
Olhando pra cima dá pra perceber que o que machuca nem sempre é um tanto; às vezes é uma gota, que cai delicadamente nas costas. Às vezes é a dor do outro ou o tédio de limpar o tapete por obrigação porque aprendemos a ser adultos. E entre tudo isso, tem muito de todo mundo. Em cada um tem um sorriso que marca, uma flor no jardim, um momento que deveria continuar ali.
Se a pipa não cai, é física. Todo restante é a gente.
(Dalila Lemos)
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