Remédio. Gadernal. Telefone, ligação, ambulância. Qual o número??? Calma! Que tal tentar um calmante... Mas... Alguém pode me explicar o que está acontecendo?
O velho enlouqueceu, dizia Soraia. Como assim enlouqueceu? Perguntava César. Com um ar de superioridade, a outra respondia: ora, meu caro, enlouquece quando atinge a extravagância da aventura insensata e recorre à alienação mental.
Já passara da hora de alguém ser mais claro. A outra tinha visto o começo e acabou expondo a situação como uma tragédia. Parecia dar conta dos vultos, das sombras na parede, daquele maldito cimento que ninguém entendia como tinha aparecido na história. Acabou nos levando a uma sala, tão abafada e que só aumentava nosso desespero.
Um dedo apontou. Lá estava o velho! Numa cadeira de madeira lixada, amarrado com uma corda grossa e os pés afundados numa bacia de cimento. O certo seria ter uma cobaia por perto, porque, na verdade, ele não se tornaria escravo e prisioneiro de si. Mas não havia ninguém .
Tá bom, a psicologia precisava entrar em ação imediatamente. Fácil é entender que os velhos regridem, mas como explicar a insanidade?!? Dizia ele que não estava louco: era amor. Amor mortal! Sentia-se como se a vida não expandisse pra nada, pra nenhum lugar, e ele não passasse de alguém testando seus limites além do estado de estar parado. Não havia mais sorrisos, não ouvia mais canções, não falava mais bobagens. O velho estava preso a alguém que não voltará jamais.
Mal passaram aqueles dois dias e teve mais um enterro. Aquela choradeira que só vendo! Os nervos a explodirem!
Remédio? Gadernal? Telefone? Ligação? Qual o número da ambulância? Poderiam tentar um calmante... Mas... Acho melhor um novo coração.
(Dalila Lemos)
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