segunda-feira, 17 de setembro de 2012

NÃO DE SEGUNDA



Eu queria falar das flores, mas não consigo. Queria dizer que é melhor fugir do prejuízo que correr atrás dele. Ou então falar sobre guerra, fazer crítica política, mostrar as injustiças do mundo. Poderia comparar canções ou mostrar entusiasmo com algum filme em cartaz nos cinemas. Mas não... Eu não consigo! Então decidi: vou contar sobre o meu dia. 

Acordei muito cedo. Todos que me conhecem já sabem que detesto levantar com as galinhas. A televisão ligou sozinha às seis, como uma forma de gritar irritantemente no meu ouvido “levantaaaaaaaaaaaa e vai trabalhaaaaaaaaaaar!”. Que triste é essa comunicação com os eletrodomésticos! Pior ainda quando o alarme do celular insiste em reforçar o recado. Peço desculpas, mas existe em mim certa rebeldia quando o assunto é segunda-feira e NÃO, eu NÃO  recebo ordens de despertador!

Vinte e cinco minutos  passaram até que decidi tomar um bom banho, quente e demorado. Tentativa em vão, porque nenhum chuveiro que se preze fica realmente quente quando os galos ainda estão cantando. O jeito foi não enrolar tanto e acabar logo com isso.

Troquei de roupa. Uma peça no corpo e outra na mão: é assim que funciona quando tenho que trabalhar em mais de uma gravação. A mochila fica cheia igual ao ônibus que entro e a coluna vai pro saco.

Depois é hora de esperar. Esperar o sol decidir se vai ou fica, esperar o  vento parar de soprar no microfone, esperar a terceira idade falar mais baixo... Esperar o caminhão sumir do cenário, a moça da faxina batucar a lata de lixo, o casal da caminhada passar logo em frente à câmera. Se gravação de segunda-feira fosse nome de filme, seria “A espera de um milagre”.

Mas tudo bem. Uma hora acaba! Então eu me sento em frente ao computador e escrevo qualquer coisa. Enquanto o isso, o dia cai. Enquanto isso, eu tenho a certeza de que na terça vai ser tudo diferente. 

(Dalila Lemos)

Nenhum comentário:

Postar um comentário