Eu queria falar das flores, mas não consigo. Queria dizer que é melhor fugir do prejuízo que correr atrás dele. Ou então falar sobre guerra, fazer crítica política, mostrar as injustiças do mundo. Poderia comparar canções ou mostrar entusiasmo com algum filme em cartaz nos cinemas. Mas não... Eu não consigo! Então decidi: vou contar sobre o meu dia.
Acordei muito cedo. Todos que
me conhecem já sabem que detesto levantar com as galinhas. A televisão ligou
sozinha às seis, como uma forma de gritar irritantemente no meu ouvido
“levantaaaaaaaaaaaa e vai trabalhaaaaaaaaaaar!”. Que triste é essa comunicação
com os eletrodomésticos! Pior ainda quando o alarme do celular insiste em
reforçar o recado. Peço desculpas, mas existe em mim certa rebeldia quando o
assunto é segunda-feira e NÃO, eu NÃO recebo ordens de despertador!
Vinte e cinco minutos
passaram até que decidi tomar um bom banho, quente e demorado. Tentativa
em vão, porque nenhum chuveiro que se preze fica realmente quente quando os
galos ainda estão cantando. O jeito foi não enrolar tanto e acabar logo com
isso.
Troquei
de roupa. Uma peça no corpo e outra na mão: é assim que funciona quando tenho
que trabalhar em mais de uma gravação. A mochila fica cheia igual ao ônibus que
entro e a coluna vai pro saco.
Depois é hora de esperar.
Esperar o sol decidir se vai ou fica, esperar o vento parar de soprar no
microfone, esperar a terceira idade falar mais baixo... Esperar o caminhão
sumir do cenário, a moça da faxina batucar a lata de lixo, o casal da caminhada
passar logo em frente à câmera. Se gravação de segunda-feira fosse nome de
filme, seria “A espera de um milagre”.
Mas
tudo bem. Uma hora acaba! Então eu me sento em frente ao computador e escrevo
qualquer coisa. Enquanto o isso, o dia cai. Enquanto isso, eu tenho a certeza
de que na terça vai ser tudo diferente.
(Dalila
Lemos)
Nenhum comentário:
Postar um comentário