Na sala de aula, foi ordenado que cada um da turma escrevesse um conto com final feliz. As histórias poderiam ter personagens clichês como madrastas, sapos, fada madrinha, monstros, entre outros seres obtusos. Materiais de apoio estariam disponíveis para a consulta, a fim de amparar o processo de criação.
Atentamente, a professora observava seus alunos concentrando-se na leitura de livros infantis com histórias inspiradas em narrativas da Walt Disney. Enquanto se submetia a uma análise individual, percebeu que uma de suas alunas não fazia o mesmo que o restante da classe: Laura folheava cuidadosamente uma revista feminina, fixando seu olhar nas páginas onde sexólogas e psicólogas respondiam perguntas de diversas leitoras.
Estranhando os fatos, a professora sentou-se ao lado da menina e a questionou sobre seu comportamento, dizendo não entender o motivo de uma revista servir como base para a criação do conto solicitado. Obteve a resposta de que a idéia principal era a de escrever uma história inteligente e adequada ao mundo atual.
Passaram-se duas horas e o prazo para a entrega dos textos havia esgotado. Enquanto um dilúvio clareava o céu da cidade, os alunos liam seus contos aleatoriamente. No de Bruno, a menina pobre beijou um sapo que se transformou num lindo príncipe. Já no de Clarice, a fada madrinha havia transformado a madrasta em uma empregada para que ela nunca mais incomodasse a princesa.
E logo chegou a vez de Laura. Na sua história, a madrasta mantinha o pai da princesa ocupado todas as noites. Com o pai ocupado, ela saía para tomar uma cervejinha com a fada madrinha. Tomando uma cervejinha, a fada madrinha transformava o lindo e romântico príncipe em uma rã. Transformado em uma rã (e não num sapo) o príncipe serviria como um delicioso tira-gosto. A princesa então iria embora bêbada, chegaria em casa cruzando as pernas, o empregado sarado cuidaria dela, eles passariam a noite juntos e, depois, a fada madrinha o transformaria num indispensável comprimido de engov. No dia seguinte a princesa acordaria super bem e gritaria: VIVA O SÉCULO XXI!
(Dalila Lemos)