sexta-feira, 21 de agosto de 2009

ETERNIDADES DE VIDRO

Laura, tenho algo a lhe dizer: dê seu sangue para entender esses dias frios de verão. Vejo em você um desejo de quem quer e não pode; ou pode, mas não deve; ou deve, mas não consegue. Você não consegue! E entre tantos sentimentos, esse medo é o que mais amo e o que mais odeio. Seu silêncio me faz muda, suas entrelinhas descrevem minha devassidão.
Quero matá-la, minha linda fantasia! Quero que beba desse veneno lentamente para que, ao decorrer de sua agonia, suplique por tudo que foi derramado: nossos dias vazios, nossos sonhos imundos e nossas decisões covardes.
Queira chamar meu nome, Laura, doce Laura! Chama-me até que a insanidade a domine! Grite suas manias, seus desleixos, sua euforia. Grite! Chame por mim! Faça isso e verá como o mundo está calado. Eu já não ouço você, também não ouço seu coração. Poderíamos reviver tudo... sim, poderíamos! Mas agora que o espelho foi quebrado, só nos resta traçar torto o traço desse destino sem cor. E apagar as luzes. E respirar um vazio. Sonhar em preto e branco, talvez a morte, um adeus, a solidão de quem fica quando tudo se foi. Um adeus. Apenas mais um.
(Dalila Lemos)

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