domingo, 18 de outubro de 2009

P&B

Um cachorro sabe de muita coisa: sabe o que você quer, o que você sente, do que você gosta. e às vezes, até mesmo sem saber o motivo, ele te espera porque gosta da sua presença, porque pra ele você é única e faz a diferença.

Um cachorro brinca na hora que você quer e se contenta com os momentos inoportunos porque entende sua vontade. Ele fica ao seu lado na hora que você precisa e se afasta na hora que você pede.

Um cachorro entende que seu dia foi longo, que seu trabalho foi estressante, seus amores te machucaram e seus estudos têm sido difíceis de conciliar.ele te espera para passear, mas não liga se você quiser ficar em casa assistindo aos programas de tv mais fúteis já inventados até hoje.

Um cachorro perdoa seus erros. Lambe sua cara. Olha para você como se entendesse o significado de suas palavras. Comemora os momentos mais importantes. Lamenta os momentos mais frágeis e sempre está pronto para um novo dia porque, para ele, o tempo só existe ao seu lado.

Quantas pessoas fazem isso por você?

***Saudades imensuráveis do cachorro mais preto e branco, mais humano e mais sacana que já conheci. Meu amigo, meu irmão e minhas melhores marcas de mordida***

(Dalila Lemos)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

DICIONÁRIO

Durante o almoço surge uma frase: “o que fulano fez foi sacanagem!”. Meu avô interrompe a conversa, dizendo que essa palavra tem um significado horrendo. Encapelado, ele diz logo em seguida:

- Você sabe o que está dizendo? Sacanagem se resume a um filho que trepa com a mãe. É um palavrão aterrorizante!

Fiquei abestalhada e me senti na obrigação de contestar:

- Nossa, vô! Você, uma pessoa de costumes tão antigos, falando “trepar”!?!

E ele lá, há uns cinco minutos, tentando me persuadir com sua opinião. Quase sem paciência, pronunciei (sem certeza nenhuma) que a palavra sacanagem possui vários significados. Abracei uma das decisões mais sérias de toda minha vida:

- Preciso só de um minuto para pegar o dicionário.

Sem sombra de dúvida, procurei os significados longe dele. Se estivesse errada quanto à inocência do que eu quis dizer no início da conversa, posteriormente, daria um jeito de enrolar o velhinho só pra não pagar o prejuízo. Mas tudo ocorreu conforme eu já imaginava:

- Pronto. Vim esclarecer nossa dúvida! Aquela palavrinha mágica possui três significados diferentes: 1. Ação, dito ou procedimento de sacana. 2. Bandalheira, imoralidade, safadeza, patifaria. 3. Brincadeira de mau gosto, troça. O terceiro significado é o que se encaixa melhor na minha frase.

Logo após, meu avô balbuciou algumas letras perdidas e contentou-se com o meu argumento. Algo que antes me incomodava, agora já não me incomoda mais. Posso falar “sacanagem” quantas vezes eu quiser. Vejam bem:

- Sacanagem! Sacanagem! Sacanagem!

Se ele resmungar ou esquecer de tudo, eu pego o dicionário e resolvo a confusão em um minuto.
Esse texto podia acabar assim se não houvesse a enorme necessidade de apresentar outras palavras e seus supostos significados.

“Horrendo” significa o mesmo que “aterrorizante”. Você pode substituir “encapelado” por “furioso” e entender que meu avô ficou realmente fora de si. Sentir-me “abestalhada” é tão ruim quanto ficar “abobada”, pois essas duas uniões de letras me lembram apelidos escondidos na infância. “Patifaria” até que soa agradável, mas é nada mais nem menos que “pouca-vergonha”.

Enfim. Graças a deus meu coração tem dono, pois se o Rodrigo Hilbert aparecesse na minha frente, eu não precisaria de dicionário pra entender o significado número dois da palavrinha mágica. E já que estamos falando em dois... o pensamento seria pequeno se não coubesse o Rodrigo Santoro nessa imoralidade toda. Aí sim, surgiria um novo assunto: “êxtase” (ou “fascínio”, segundo os sinônimos do Microsoft Word).

Quer saber de uma coisa? Eu acho esse lance de dar nome às coisas e coisas aos nomes uma verdadeira SACANAGEM!

(Dalila Lemos)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

ETERNIDADES DE VIDRO

Laura, tenho algo a lhe dizer: dê seu sangue para entender esses dias frios de verão. Vejo em você um desejo de quem quer e não pode; ou pode, mas não deve; ou deve, mas não consegue. Você não consegue! E entre tantos sentimentos, esse medo é o que mais amo e o que mais odeio. Seu silêncio me faz muda, suas entrelinhas descrevem minha devassidão.
Quero matá-la, minha linda fantasia! Quero que beba desse veneno lentamente para que, ao decorrer de sua agonia, suplique por tudo que foi derramado: nossos dias vazios, nossos sonhos imundos e nossas decisões covardes.
Queira chamar meu nome, Laura, doce Laura! Chama-me até que a insanidade a domine! Grite suas manias, seus desleixos, sua euforia. Grite! Chame por mim! Faça isso e verá como o mundo está calado. Eu já não ouço você, também não ouço seu coração. Poderíamos reviver tudo... sim, poderíamos! Mas agora que o espelho foi quebrado, só nos resta traçar torto o traço desse destino sem cor. E apagar as luzes. E respirar um vazio. Sonhar em preto e branco, talvez a morte, um adeus, a solidão de quem fica quando tudo se foi. Um adeus. Apenas mais um.
(Dalila Lemos)

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

TOQUES MONOFÔNICOS

No meio de tantos pensamentos absurdos, o maior de todos: os objetos deveriam ser como um aparelho celular. Não relaciono o fato aos modelos mais tecnológicos capazes de capturar vídeos, bater fotos, transmitir dados em uma distância considerável, enviar e receber e-mails, fazer downloads, baixar músicas e preparar um café forte e quente.

Sei que tanta facilidade afeta bastante o desejo e o nosso bolso, até porque, trabalhei com isso há algum tempo e conheci pessoas que optaram por um sorriso sem dente e um celular de mil reais no bolso. Não critico de maneira alguma, mas minhas idéias vão além de tudo isso.

Eu acho que a vida seria mais simples se resumida a toques. Poderíamos teclar oito números quaisquer e descobrir o exato local em que esquecemos as chaves. Um simples toque monofônico evitaria alguns minutos de estresse e preocupação. Se as chaves não estivessem por perto, o ideal seria bloqueá-las para que ninguém invadisse nossa casa. Possivelmente existiria um sistema de identificação pessoal a fim de evitar tanta burocracia, afinal, atire a primeira pedra quem nunca esqueceu os onze números do CPF.

Não me perguntem se esse objeto é o único motivo de tanta viagem. Lembrem-se de que nós também perdemos documento, dinheiro, acessórios, emprego. Algumas vezes perdemos amores, amigos e até a cabeça (creio que foi exatamente isso que me aconteceu agora). Conformada, possível e completamente conformada. Sei que tanta tecnologia ainda enlouquecerá minha mente. Por enquanto eu só quero minhas chaves e a vida resumida a toques.

(Dalila Lemos)



sexta-feira, 7 de agosto de 2009

DIÁLOGO PRA BOI DORMIR

[JUNHO DE 2007]
"Oi, sou sua atendente virtual. Para começar, fale ou tecle o número do telefone que deseja consultar - dígito por dígito, seguido do DDD"

Dalila (imitando a voz da maldita): Atendimento.

"-Entendi"

Dalila: Que inteligente!

"Você quer falar com um de nossos atendentes. Mas para isso, preciso que confirme uma última coisa. Sobre o que você deseja falar: assunt..."

Dalila: (interrompendo, como uma ótima e ex funcionária da oi) Assuntos de conta.

"Entendi. Assuntos de conta."

Dalila: Inteligente mesmo... entende e ainda repete! Meus parabéns!

"Para sua segurança digite os três primeiros dígitos do CPF"

Dalila: Essa merda não está regularizada, mas vou tentar assim mesmo;

"Aguarde enquanto transfiro sua ligação para um de nossos atendentes"

-----

A besta: Jaqueline Gomes, boa tarde. Com quem eu falo?

Dalila: (pensando) Será que isso interessa mesmo?

A besta: Oi, com quem eu falo?

Dalila: Boa tarde, você fala com a Dalila.

A besta: Posso ajudar?

Dalila: Espero que sim. Quero cancelar minha linha telefônica.

A besta: Qual é o número?

Dalila: (24)3324-2936

A besta: Queira me informar nome completo e data de nascimento do titular da linha?

Dalila: (do titular? pensei que eu fosse mulher... odeio quando perguntam meu nome completo e tenho que responder) Dalila de Lemos Sousa e Silva, 09/11/1988.

A besta: Obrigada pelas confirmação dos dados, senhora Dalila.

Dalila: (se isso existe, a senhora está no céu. sou uma jovem). Sim, Jaqueline, pode prosseguir.

A besta: Você se mudou pra Brasília?

Dalila: (ahhh, sim! Sou eterna nessa "Brazila", mas não entendi como o sistema identificou isso) Me mudei sim.

A besta: Por qual motivo a senhora quer cancelar a linha?

Dalila: (sou uma jovem e não tenho muita paciência) Porque me mudei pra Brasília.

A besta: Você pretende morar aí definitivamente?

Dalila: (não sei, acho que vou consultar a mãe Diná) Pretendo.

A besta: E não tem ninguém de Barra Mansa que queira aproveitar sua linha telefônica?

Dalila: (pronto. responsabilidade social: pura reciclagem) Não. Não tem.

A besta: Você mora de aluguel?

Dalila: (meu deus! acho que isso é uma sessão de psiquiatria!) Moro e já devolvi meu apartamento. Já estou nessa Brasília e quero apenas que você cancele minha linha telefônica sem entrar em detalhes.
A besta: Mas o outro morador não teria interesse?

Dalila: Meu amor, como disse, já entreguei meu apartamento e não tem ninguém lá. Eu não tenho interesse em transferir essa linha pra outra pessoa e nem aproveitar qualquer promoção que seja.

A besta: Senhora Dalila...

Dalila: (Caralho)

A besta: Você não prefere bloquear sua linha telefônica ou invés de cancelar? O cancelamento é irreversível. Caso você se arrependa e solicite nova instalação, será cobrada uma taxa novamente.

Dalila: Olha só, meu bem, em momento algum passou pela minha cabeça agir com certa falta de educação. Fui funcionária de uma franquia da Oi e entendo seu trabalho... mas eu não tenho interesse em nada que você me oferece. Estou decidida. Quero que cancele a linha agora ou transfira a ligação pra sua supervisora.

A besta: A atendente que é responsável pelo cancelamento e não a supervisora. Como uma ex funcionária da oi, você deveria saber disso.

Dalila: Qual seu nome mesmo?

A besta: Jaqueline

Dalila: Jaqueline de quê?

A besta: Jaqueline Gomes

Dalila: (ameaçando desligar) Muito obrigada, Jaqueline!

A besta: Senhora Dalila!

Dalila: (não respondi. fiquei muda. não sou uma senhora, sou uma jovem)

A besta: Alô? Senhora Dalila? Posso prosseguir com o cancelamento?

Dalila: Se for prosseguir, pode. Mas seja breve.

A besta: Você pode bloquear a linha ao invés de cancelar. O cancelamento é irreversível. Caso você...

Dalila: Escuta! Anda logo, não enrola. Você já disse isso.

A besta: Não disse não.

Dalila: (PUTA QUE PARIU) Quer que eu repita tudo que você disse?

A besta: Eu não disse isso ainda.

Dalila: Cheguei no meu limite. Não quero saber nada do que você está falando. Já disse que estou decidida. Você vai cancelar a linha ou não vai?

A besta: Aguarde enquanto o sistema conclui.

Dalila: Será que conclui?

A besta: Anote o número do protocolo.

Dalila: Pode falar.

A besta: 2477806409

Dalila: 2477806409. Jaqueline, muito obrigada pela sua atenção. Tenha uma boa tarde e um ótimo trabalho.

A besta: A oi agradece sua ligação. Boa tarde.

Dalila: ZzZzZzZzZ

(Dalila Lemos)