Daqueles detalhes - que não passam batidos nem em faz de conta - eu sei bem. Conheço milimetricamente o local em que me perco: no escuro, com a noite muda e uma música ressonando em minha cabeça.
Há delírios noturnos que não se explicam. Eles existem e ponto. Ficam agarrados no travesseiro, fragmentando o cheiro depois que você vai embora dos meus sonhos.
Então eu começo a pensar no quão difícil é lidar com a realidade, com a sensação de que falta alguma coisa além dos móveis naquele quarto vazio.
Não encontro nada nos meus três relógios, a não ser algumas lembranças que giram conforme o movimento dos ponteiros.
Talvez seja ilusão de ótica. De olfato. De pensamento. Ilusão de que, em algum momento, não vou mais precisar racionalizar ilusões: vou simplesmente jogar as chaves fora para que a porta fique sempre aberta.
E se você entrar, vou ter no rosto um sorriso infantil. Vou rasgar os horóscopos. Vou apagar tudo que esteve contido em mim e nas entrelinhas do meu caderno.
E se você ficar, não vou mais brigar com os deuses. Nem alimentar o medo que se alimenta de mim ao final do dia.
(Dalila Lemos)
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