sexta-feira, 8 de agosto de 2014

PSEUDÔNIMO

1- Imagine que nada é real. (Porque, evidentemente, em uma escala considerável, não é). Então dê outro nome a tudo... (Para que você possa falar sobre tudo, afinal, liberdade de expressão costuma ser utopia também).

2- Escolha um pseudônimo para aquele programa de televisão – o qual você considera mais imbecil que a torradinha da Lala, dos Teletubbies.

3- Respire fundo.

4- Agora reflita: Mario Sergio Cortella estava certo ao afirmar que os humanos são os únicos animais que possuem a capacidade de se sentir idiota?

5- Então olhe para si. E busque a razão que te fez chorar e gargalhar, simultâneamente, após assistir ao programa estúpido. 

6- Por fim, confesse: Dalila, querida, você é indescritivelmente humana e idiota. Vá se tratar!

(Dalila Lemos)

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

DELÍRIOS DE TRAVESSEIRO

Daqueles detalhes - que não passam batidos nem em faz de conta - eu sei bem. Conheço milimetricamente o local em que me perco: no escuro, com a noite muda e uma música ressonando em minha cabeça. 

Há delírios noturnos que não se explicam. Eles existem e ponto. Ficam agarrados no travesseiro, fragmentando o cheiro depois que você vai embora dos meus sonhos.

Então eu começo a pensar no quão difícil é lidar com a realidade, com a sensação de que falta alguma coisa além dos móveis naquele quarto vazio.

Não encontro nada nos meus três relógios, a não ser algumas lembranças que giram conforme o movimento dos ponteiros.

Talvez seja ilusão de ótica. De olfato. De pensamento. Ilusão de que, em algum momento, não vou mais precisar racionalizar ilusões: vou simplesmente jogar as chaves fora para que a porta fique sempre aberta.
E se você entrar, vou ter no rosto um sorriso infantil. Vou rasgar os horóscopos. Vou apagar tudo que esteve contido em mim e nas entrelinhas do meu caderno.

E se você ficar, não vou mais brigar com os deuses. Nem alimentar o medo que se alimenta de mim ao final do dia.

(Dalila Lemos)

INTEIRO E NÃO PELA METADE

Se não me engano, foi em 2010 que um amigo me disse que “só vale a pena o que faz bem”. Certo. Digo que vale a pena interromper recorrentemente um texto e até esquecer algumas palavras se for por uma boa causa depois das 23:00h. Porque, às vezes, o celular alerta que você é importante para quem está do outro lado. Mas só às vezes... E só para algumas pessoas.

O silêncio é uma arma: chega com a madrugada, prestes a exterminar todas as expectativas boas que há por dentro. O único sobrevivente é o medo! E é justamente o medo de deixar a própria essência de lado que faz com que a balança mostre o que vale a pena.

Vale a pena a essência. E não o talvez! Porque o talvez é metade... Metade da dose, medida a conta-gotas! Viver um talvez é não viver por inteiro. É se contentar com o meio, sem jamais ter a chance de alcançar as extremidades.

Portanto, eu prefiro que derramem o completo sobre mim. Um sim completo, um não completo. Até mesmo o nunca! Gestos, atitudes, pensamentos e desejos: tudo em uma escala de 100%. 

Sem silêncio e sem talvez. Porque eu não sou feita de metades.

(Dalila Lemos)