segunda-feira, 9 de junho de 2014

AS FAMOSAS NOVIDADES

Há muito tempo eu tento entender o sentido de algumas perguntas. Existem de todos os tipos, indagadas nas mais diversas entonações, em contextos simples ou intimidantes. E entre todas elas, a que mais me assusta é a famosa: “QUAIS SÃO AS NOVIDADES?”.

A palavra novidade vem do latim novitas e significa aquilo que é novo. Portanto, falar sobre o novo é ter situações que aparecem pela primeira vez no cotidiano, cujas quais merecem algum tipo de comentário plausível. 

É importante lembrar que moro em Barra Mansa – uma cidade sempre sem emoções, sempre estagnada pela pausa na ferrovia, sempre lotada de pessoas que precisam de bússolas para caminhar nas ruas e de carros que seguem na tentativa em vão de chegar a algum lugar. Logo, não há nada de novo... Porque até o novo é sempre... E o sempre é um velho eterno marcado pelo apito ensurdecedor do trem.

Você deve pensar que é pretexto. Deve achar que estou inventando motivos para não confessar a mesmice que é minha vida. E digo mais: talvez você esteja certo. Contudo, em uma análise mais profunda e relativa ao assunto, eu me questiono: O que é ter novidades para contar? 

Eu poderia ser algum sortudo, com a boca cheia de dentes, exclamando sorrisos ao dizer que vou à Finlândia ou a Paris no próximo mês. Poderia ser mais uma daquelas pessoas que se fecham para imensidão do mundo e decidem fazer tributo ao Luan Santana, com serenatas de “... Eu, você, dois filhos e um cachorro”. Poderia ganhar na loteria, nos sorteios de mercados, nas rifas e nos bingos. Ou quem sabe até alcançar, merecidamente, um cargo de chefia em alguma corporação industrial com alto reconhecimento. 

Mas não. O meu novo é simples, esquisito e pequeno. E eu não sei a que ponto ele se enquadra no direito de ser compartilhado com o próximo – que casou, mudou e não te convidou - que viveu, cresceu e morreu com uma conta bancária invejável – que conheceu mais de vinte países e nunca (eu disse NUNCA) foi obrigado a colar uma tabela de capitais na mesa do trabalho.

De qualquer forma, a quem interessar possa, eis aqui as minhas novidades que sucederam o mês de Abril: estive no melhor evento rock de todos os tempos (julgue quem quiser, pois foi lindo). Bati o pé por gostar de ser ruiva e prezei pelo dia da invenção de uma tinta fixa. Lavei as madeixas com leite morno após uma peripécia que teve final trágico. Dei gargalhadas nas ruas, ao me lembrar de situações inevidentes. Salvei uma barata. Baixei músicas que nunca tinha ouvido. Resgatei amigos. Ganhei um livro, um vinho, um casaco, uma base, um jogo americano, alguns chocolates e um pão de mel. Fiz check-in mental na funerária. Fui embora de um evento antes do final. Senti medo. Senti frio, mas agasalhei o corpo e deixei os pés à mostra. 

Ah, antes que eu me esqueça: além de simples, esquisitas e pequenas, as minhas novidades são aleatórias! Mas isso não interessa. O que importa realmente é que, com elas, descobri em mim mais de mim do que em 25 anos. E acho que isso basta!

(Dalila Lemos)

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