Às vezes, quando parece que o mundo vai acabar, ela chega. Sempre carente, mas alegre. Sempre festiva, embora quieta. Me olha com um olhar de quem esperou por mim o dia todo, como se nada mais importasse. Depois, deita no chão e me pede carinho.
"Ela" é a Bebel, minha cachorra. É tão adorável quanto os outros cães, mas há algo diferente que a deixa mais especial: ela me faz sentir especial, até nos piores momentos. Sinto um amor que não cura outros amores, porém ameniza.
Prefiro os bichos aos seres humanos, pois as pessoas nos substituem e eles nunca. Humanos são feitos de uma matéria ruim: sentem inveja, indiferença, pudor. Pessoas são pessoas e só. Se limitam aos erros, dão mais importância ao cérebro que ao coração. Acho que isso explica meu amor pelos animais. Mas eu não quero falar dos caninos de um modo geral. Quero contar sobre escolhas.
Escolhas podem ser involuntárias ou não. Podem ser certas ou erradas. Podem ser para a vida toda ou apenas para um momento único. O fato é que as decisões às vezes machucam a gente e fazem doer quando apostamos em algo sem perceber que é em vão.
Hoje vejo que me machuquei com uma de minhas decisões. E, pra piorar, me apeguei tanto a ela que não me sinto capaz de substituí-la por outra. Em contratempo, outra decisão que tomei em minha vida nunca se fez negativa.
Lembro-me como se fosse ontem: ela estava na rua, perdida. Chamei por ela - que me olhou com um olho de cada cor e deitou no meu colo. Levei a Bebel pra casa. E agora, enquanto as orelhas dela se enfiam nessas entrelinhas, eu me sinto capaz de perceber que as melhores escolhas são aquelas que nos escolhem.
(Dalila Lemos)
Nenhum comentário:
Postar um comentário