Gosto de aprender coisas. É certo que, até hoje, não aprendi a segurar minha língua durante situações inoportunas. Também não aprendi nenhuma técnica que me torne menos transparente. Mas tudo bem: de falsidade eu não morro! Agora vamos ao que interessa.
Ontem me ensinaram um verbo cujo qual nunca fez parte da minha vida: jiboiar. Achei estranho quando, imediatamente, pensei em uma cobra. E que curioso! Não me enganei! A palavra foi inventada para comparar o processo alimentar de uma jiboia ao momento de autorreflexão.
A jiboia é uma serpente comprida, com a boca muito dilatável, que se alimenta de pequenos mamíferos. Ela não mastiga as presas, apenas as sufoca até a morte e as engole. Obviamente, digerir um animal inteiro é uma tarefa difícil que pode levar dias ou até semanas. Isso explica o termo que minha amiga inventou.
Algumas vezes, a vida nos traz presas em forma de notícias. Para sobreviver, somos obrigados a engolir os fatos de uma só vez, sem mastigá-los. Em um primeiro momento, as notícias passam por nossa garganta de modo desagradável e nos deixa entalados. Aos poucos, os acontecimentos desintegram em nosso organismo até que o processo digestivo termine.
Jiboiar é isso: digerir lentamente uma dor, engolir de uma só vez o sofrimento até que ele se decomponha dentro de nós.
Somos parecidos com as serpentes. A diferença é que o alimento que nos faz sobreviver, também nos faz chorar. Sentimos muito por engolir o amor errado, a perda, o dia ruim, o estresse do trabalho.
Agora, por exemplo, eu sinto por digerir duzentos batimentos cardíacos por minuto. E se alguém perguntar o que está acontecendo, é uma boa hora para responder: “estou apenas jiboiando”.
(Dalila Lemos)