Talvez o universo queira realmente ser notado. Mas o mundo anda tão esquisito (se é que algum dia já foi diferente).
É que as pessoas andam depressa demais. Vivem numa luta constante contra os ponteiros do relógio e são destinadas às responsabilidades mais absurdas, como as de ser o que não são ou fazer o que não querem.
Elas passam.
Passam sem demonstrar guerra ou paz. Passam deixando palavras passarem. Passam mais rápido que os sonhos e mais covardes que o medo.
Passam com beijos não dados. Com desejos reprimidos. Com saudades não aceitas.
Passam com mágoas. Ressentimentos. Vinganças. E nenhum brilho nos olhos.
Esquecem que existe vida janela afora. Se trancam, se julgam, se matam por dentro.
E o universo fica chamando a atenção. As estações trocam de características para serem notadas. Os sintomas invadem os hospitais como forma de alerta. O sangue estampa capas de jornais porque já não consegue correr só nas veias.
Então, o tal mundo esquisito fica do avesso. É apenas um modo de fazer com que vejam o outro lado!
Eu não posso intervir no avesso de ninguém. Mas se eu pudesse, indicaria mais banhos de chuva, mais vento na cara, mais sol e menos cortina. Sugestionaria playlists com as músicas preferidas ou, simplesmente, o barulho de passos lentos no asfalto.
Mais bichos. Mais cochilos depois do almoço quando o trabalho da uma trégua. Mais amigos. Mais viagens. Menos conexão e mais contato físico.
Porque seria realmente legal se percebessem que não precisam ter nem perder muito.
Não sejamos um efeito colateral do universo!
(Dalila Lemos)