terça-feira, 13 de maio de 2014

OUTRO LADO

Talvez o universo queira realmente ser notado. Mas o mundo anda tão esquisito (se é que algum dia já foi diferente).

É que as pessoas andam depressa demais. Vivem numa luta constante contra os ponteiros do relógio e são destinadas às responsabilidades mais absurdas, como as de ser o que não são ou fazer o que não querem.

Elas passam.

Passam sem demonstrar guerra ou paz. Passam deixando palavras passarem. Passam mais rápido que os sonhos e mais covardes que o medo.

Passam com beijos não dados. Com desejos reprimidos. Com saudades não aceitas. 

Passam com mágoas. Ressentimentos. Vinganças. E nenhum brilho nos olhos.

Esquecem que existe vida janela afora. Se trancam, se julgam, se matam por dentro. 

E o universo fica chamando a atenção. As estações trocam de características para serem notadas. Os sintomas invadem os hospitais como forma de alerta. O sangue estampa capas de jornais porque já não consegue correr só nas veias.

Então, o tal mundo esquisito fica do avesso. É apenas um modo de fazer com que vejam o outro lado!

Eu não posso intervir no avesso de ninguém. Mas se eu pudesse, indicaria mais banhos de chuva, mais vento na cara, mais sol e menos cortina. Sugestionaria playlists com as músicas preferidas ou, simplesmente, o barulho de passos lentos no asfalto. 

Mais bichos. Mais cochilos depois do almoço quando o trabalho da uma trégua. Mais amigos. Mais viagens. Menos conexão e mais contato físico.

Porque seria realmente legal se percebessem que não precisam ter nem perder muito. 

Não sejamos um efeito colateral do universo!

(Dalila Lemos)

quinta-feira, 8 de maio de 2014

AQUELE MEDO DE MUDAR

Tenho observado pessoas e situações estáticas – que não vão, não são e, de vez em quando, não existem. Equanimidade para uma linguística metida e mesmice para um significado perfeito.

E sabe o porquê disso? Mudar dá medo!  Sejam as mudanças necessárias, arriscadas, simples, complicadas ou radicais. Tudo que se transforma, torna-se novo... E o novo assusta.

Tem gente que espera mais de dez anos para mudar os móveis de lugar. Tem gente que não muda... O sofá, com o tempo, já deixa uma marca registrada no piso. O tapete desbota, a cômoda atrai cupins e o cenário se assemelha à disposição de elementos em um museu.

Tive uma amiga, inclusive, que além dos móveis, não mudava o cabelo. Morria de vontade de cortar, mas quando eliminava dois centímetros do comprimento já entrava em pânico. Um dia (acredito que por descrença existencial ou algo que o valha), tomou coragem e foi ao cabeleireiro: cortou, coloriu, alisou e ficou linda! A descrença existencial acabou ali.

O que quero dizer é que o medo do novo é normal. Mas nem tudo que é normal faz bem constantemente! Às vezes é essencial mudar a direção: escolher um caminho contrário, fugir da ordem habitual das coisas. Porque o lugar comum esgota, desgasta e impregna o mundo com suas velhas ideias.

Não vou tentar convencer ninguém de que é fácil. Afinal, mudanças são complexas. Algumas tiram o sono; outras desfazem laços no ciclo de amizade. Existem mudanças que, inclusive, nos aproxima do que mais tememos e nos afasta de sensações cujas quais jurávamos não conseguir viver sem. Tem mudança que enche de ansiedade e tem também a que esvazia de desejo. 

Mudança de carro, caminhão. Mudança de cidade, de país, de planeta. Mudança de corpo, de mente, de astral. Mudança de idioma e de enredo de filme. Mudança de gosto. De final de ano. De começo de semana. De meio do mês. Mudança de cardápio, visão, paladar. Mudança de sentido. Mudança que faz mudar de dentro pra fora e muda a vida de fora pra dentro. 

Seja qual for a sua, desde que seja! Desde que te livre da indiferença e te aproxime dos sonhos. Desde que te deixe mais próxima de si mesma e pinte um sorriso no seu rosto enquanto o sol esquenta a solidão matinal das praças.

(Dalila Lemos)