
Comigo foi basicamente isso que aconteceu, mas não me entreguei à desesperança do salário, apenas pensei na ótima oportunidade de fazer novas amizades e conhecer pessoas diferentes. Eu só não esperava que a tal diferença contida nessas pessoas faria com que eu não entendesse meia palavra do que elas dissessem.
Para quem não sabe, mudar de ambiente de trabalho pode ser tão complicado quanto visitar um outro país, cujo qual é adepto a um idioma que você desconhece. Os colegas de trabalho se comunicam utilizando gírias especificamente cotidianas, e você, que não passa de uma novata inexperiente, adota o famoso sorriso amarelo para fingir que está por dentro de todos os assuntos.
Lembro que, ao me demitirem de uma agência de publicidade, aceitei o primeiro emprego que apareceu. Então, caí nas garras de uma agência de telecomunicações terceirizada, que prestava serviço para uma empresa de telefonia no varejo. Resumindo: eu vendia celulares em grandes lojas do comércio.
Certa vez, trabalhando nas Casas Bahia, observei um funcionário gritando “ta adriano”. Não compreendi o ocorrido e, inclusive, cheguei à conclusão de que adriano poderia ser o nome de alguém que estivesse por perto. Uma funcionária respondeu ao grito dizendo “é izassa mesmo” e percebi o quanto eu estava enganada.
Na verdade, não entendia mais absolutamente nada. Se existisse algum teste capaz de identificar quem é ou não um terráqueo, eu não hesitaria fazer. Sentia-me como se fosse de outro planeta, pois aquelas palavras não pertenciam a nenhuma frase dos livros que já li.
Sorte é que a leitura não é a única responsável por ampliar o vocabulário. Costumo dizer que a convivência faz por mim coisas que ninguém faria... e foi convivendo que aprendi o verdadeiro significado daquelas palavras estranhas.
A expressão “ta adriano” era empregada com a finalidade de dizer que certo cliente estava tomando o tempo do funcionário e “izassa” representava aqueles clientes que perguntavam, pediam para olhar tudo, mas nunca compravam nada.
Vivendo e aprendendo, não é mesmo? Sinceramente, o conhecimento nunca é o bastante. Quando você pensa que sabe, percebe que ainda tem muito que aprender. Digo isso porque não bastaram as duas palavras primárias. Os funcionários criaram derivações para elas: “izassa”, carinhosamente, passou a ser “iza” e adriano (que não é um substantivo próprio e, sim, um verbo) deu origem ao “driô”.
É importante reforçar que ninguém também se contentou com as derivações. Delas surgiram as paródias, como por exemplo, uma referente à música extravasa da cantora Cláudia Leite, na qual cantavam isa vaza. Sem contar a propagação de “ta ligado” e “na moral” por toda a loja.
Citaria inúmeros exemplos se eu ainda trabalhasse lá. Só que agora, com esse novo emprego, sou escrava do “up down” e do “bicheiro”: gírias para uma outra história!
(Dalila Lemos)