terça-feira, 26 de outubro de 2010

UMA GÍRIA, UMA HISTÓRIA

Aparentemente, não há nada anormal nos empregos novos: você recebe a notícia que o estabelecimento precisa de funcionários para preencher o quadro, envia seu currículo com entusiasmo e perde boa porcentagem desse ânimo no dia da entrevista – quando descobre o salário que vai receber.

Comigo foi basicamente isso que aconteceu, mas não me entreguei à desesperança do salário, apenas pensei na ótima oportunidade de fazer novas amizades e conhecer pessoas diferentes. Eu só não esperava que a tal diferença contida nessas pessoas faria com que eu não entendesse meia palavra do que elas dissessem.

Para quem não sabe, mudar de ambiente de trabalho pode ser tão complicado quanto visitar um outro país, cujo qual é adepto a um idioma que você desconhece. Os colegas de trabalho se comunicam utilizando gírias especificamente cotidianas, e você, que não passa de uma novata inexperiente, adota o famoso sorriso amarelo para fingir que está por dentro de todos os assuntos.

Lembro que, ao me demitirem de uma agência de publicidade, aceitei o primeiro emprego que apareceu. Então, caí nas garras de uma agência de telecomunicações terceirizada, que prestava serviço para uma empresa de telefonia no varejo. Resumindo: eu vendia celulares em grandes lojas do comércio.

Certa vez, trabalhando nas Casas Bahia, observei um funcionário gritando “ta adriano”. Não compreendi o ocorrido e, inclusive, cheguei à conclusão de que adriano poderia ser o nome de alguém que estivesse por perto. Uma funcionária respondeu ao grito dizendo “é izassa mesmo” e percebi o quanto eu estava enganada.

Na verdade, não entendia mais absolutamente nada. Se existisse algum teste capaz de identificar quem é ou não um terráqueo, eu não hesitaria fazer. Sentia-me como se fosse de outro planeta, pois aquelas palavras não pertenciam a nenhuma frase dos livros que já li.

Sorte é que a leitura não é a única responsável por ampliar o vocabulário. Costumo dizer que a convivência faz por mim coisas que ninguém faria... e foi convivendo que aprendi o verdadeiro significado daquelas palavras estranhas.

A expressão “ta adriano” era empregada com a finalidade de dizer que certo cliente estava tomando o tempo do funcionário e “izassa” representava aqueles clientes que perguntavam, pediam para olhar tudo, mas nunca compravam nada.

Vivendo e aprendendo, não é mesmo? Sinceramente, o conhecimento nunca é o bastante. Quando você pensa que sabe, percebe que ainda tem muito que aprender. Digo isso porque não bastaram as duas palavras primárias. Os funcionários criaram derivações para elas: “izassa”, carinhosamente, passou a ser “iza” e adriano (que não é um substantivo próprio e, sim, um verbo) deu origem ao “driô”.

É importante reforçar que ninguém também se contentou com as derivações. Delas surgiram as paródias, como por exemplo, uma referente à música extravasa da cantora Cláudia Leite, na qual cantavam isa vaza. Sem contar a propagação de “ta ligado” e “na moral” por toda a loja.

Citaria inúmeros exemplos se eu ainda trabalhasse lá. Só que agora, com esse novo emprego, sou escrava do “up down” e do “bicheiro”: gírias para uma outra história!

(Dalila Lemos)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

CHUVA DE ALEGRIA

Jogo do Mengão no Raulino é sinônimo de chuva. Na primeira vez em que fui, pensei que o céu fosse desabar: chovia tanto, que meus pés afogavam com a água dos sapatos. O celular mal completava a ligação e, para ajudar, ainda havia a "hidrofobia" da minha mãe que insistia em me ligar (desesperada) tentando me convencer a desistir.

Quinta aconteceu quase a mesma coisa. A diferença é que não choveu tanto, só alguns pingos lá e outros cá na hora do jogo. Nada que desanimasse a galera! A partida, na maior parte, foi parada... mas a torcida manteve a animação do início ao fim.

Eu me entreguei ao sono por alguns segundos. Estava tão cansada, que fechei os olhos por instantes e adormeci. Nesse momento, ouvi gritos, cantos e batidas que me fizeram acordar assustada e ver que o placar marcava 1x0 pro Flamengo. Val Baiano fez o primeiro gol que, por coincidência, já estava previsto no post do meu namorado.

A torcida cobrou muito o time, pois os jogadores estavam com dificuldade em chutar a bola pro gol. Apesar disso, compensaram de uma outra forma: impedindo que os adversários tomassem a frente.

Me lembro que um dos jogadores do Atlético-GO conseguiu dominar a jogada e correu em direção ao gol. Quem amenizou a tensão dos flamenguistas naquele momento foi o Juan que, dinamicamente, roubou a bola do adversário. Confesso que, naquela hora, meu nervosismo foi às alturas: imaginei que a jogada não daria certo e o juiz marcaria um pênalti. Me surpreendi!.

Não esperava outro gol e lá veio o segundo! A torcida fazendo barulho, agitando o estádio, espalhando muita energia positiva pra mostrar que quem tá na chuva é pra se molhar mesmo!

(Dalila Lemos)