quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

TRAVESSIA

Não foi em dias de sol que eu me tornei o que sou hoje. Foi na dor. Foi enquanto eu observava a chuva e pensava nos meus passos, molhados, caminhando em busca de algo maior. Às vezes, quase impossibilitada de seguir em frente, eu parava. Me escondia. Me protegia da tempestade. Depois eu acreditava que uma hora isso tudo ia passar. E passava. Eu via tudo passando por mim.

Passavam ressentimentos. Filmes na minha cabeça, com enredos que eu não desejei que terminassem (e terminaram). Passavam cenas que eu nunca imaginei que viveria (e vivi). Músicas que já me angustiaram, palavras que eu não decifrava... Passava o trânsito, o caos, o risco, o tempo - tal inconstante qual o medo.

Tudo que sou é travessia. Eu deixo amor por entre coisas que passam. E eu deixo amor por onde me atravessam.


(DALILA LEMOS)