Poucas vezes fico muda
E tudo porque - quase nunca -
Nunca grito meu silêncio
Poucas vezes vejo o céu fragmentado
A lua cheia
O apito de um trem quase confuso
Não vejo vênus nem júpiter
Não finjo verdades nem sonhos já cansados
Não tenho nas mãos nada mais que a opção de calar-me a boca
Eu fico muda.
E tudo porque - quase nunca -
Nunca calo meu desespero
Tenho um nó
(Não na garganta)
Mas na alma vazia que me preenche de medo
E sobre esse mundo farto
Sobre teorias bem elaboradas
Tenho apenas respostas
Muito mal convincentes a mim mesma
Sem ponto
Sem verbo.
Sem espaço.
Até sem nome eu fico!
Mas fico.
Ainda que em silêncio
Ainda que em pedaços
Ainda que sem palavra.
Digo, sem ponte ou abismo
Quem sabe o lirismo
E o delírio que me propaga no vento
Fico porque sou eu, imóvel
Perdida na euforia do tempo:
Que não grita, mas ensurdece
Que não fala, mas se faz compreensível
O mesmo tempo
Que, para a alegria dos ponteiros,
Traz (re)encantos dos encantos
Que foram contados na ponta dos dedos
Um alguém mudo.
Talvez eu.
Talvez você.
Talvez só esse tempo.
(DALILA LEMOS)