Portanto, fico assim. Porque talvez fosse setembro... Eu não me lembro. E sem querer rimar, exponho alegremente que aprendi a esquecer (pelo menos as datas de) as coisas ruins.
Mas foi um dia traumático de fato. Um trauma não registrado no calendário. Um medo indefinível, não por ter ficado sem celular, mas por ter ouvido pessoas perguntarem se o assaltante era negro. Que diferença faz a cor num mundo que reflete ignorância em tons de cinza?
Tive medo de ficar cara a cara com o despreparo da polícia. Medo de fazer mal a alguém que, por qualquer motivo, necessitou tirar algo material de outro alguém. E um medo de ouvir vozes dizendo que sou louca por me preocupar tanto com quem "não se esforça pra vencer na vida".
Entre tantos medos, o pior foi o de me sentir desprotegida. Mas naquele dia de setembro sem rimas, ou de outubro que não muda nada, percebi o quão é inevitável.
Não falo de segurança no seu sentido literal. O buraco é mais embaixo! Eu me sinto desprotegida a todo instante: no convívio com pessoas que tentam passar por cima das outras, nas entrelinhas dos discursos de quem defende o combate à violência com violência, no lucro egoísta dos grandes empreendedores, no sentimento surreal de quem despreza o valor dos sentimentos, na falta de paz que tenho ao chegar em casa, nas reticências de exemplos e na sensação de impotência que um motorista pode me causar quando dou sinal e vejo que o ônibus não parou devido ao fato de eu estar correndo.
O buraco é mais embaixo: bem embaixo do meu nariz! Hoje eu tentei salvar uma barata e chorei por ter falhado. Agora meus pensamentos estão desconexos e eu não sei como devo ficar: parada num ponto vazio ou no movimento de uma realidade hostil.