quinta-feira, 12 de março de 2015

GUARDA-CHUVA AINDA TEM HÍFEN E SERVE PRA SE MOLHAR

Quase uma hora dentro do ônibus, digerindo a capa da globo.com desde ontem. Pensei em tanta coisa, que me senti 'um estranho no ninho'. E olha que o meu cérebro costuma me contrariar, sem funcionar direito antes das dez da matina. Mas hoje não.

A mente sacudiu junto com as rodas sobre o paralelepípedo do bairro Paraíso e cheguei ao fim de um processo que e pude denonimar viagem. Viagem - nas suas amplas traduções.

Chegou a hora de passar pela roleta, guardar os óculos escuros e seguir em direção à academia. Mas eu não consegui concluir esse ciclo da forma que faço casualmente. Alguma coisa me fez encostar sobre o ponto de ônibus e pressionar o modo aleatório do MP3 até que algum som pudesse satisfazer minha audição.

(Eu estava em modo off).

Me distraí do celular e avistei um desconhecido com dificuldades de se equilibrar sobre as quatro patas. Magro. Sem nome. Sem dono. Sem espaço.

O Medo - que era dele - passou POR mim. O medo - que era meu - passou PRA ele. Um receio cheio de intensidade, lotado de ansiedade e que tem se transformado numa luta de Kill Bill dentro de mim. Mate o Bill e encontre a esperança, como se encontra uma agulha no palheiro (foi a razão quem disse).

Mas eu pude ver a pressa dos ponteiros e o tempo corroendo aquelas costelas em um fight contra meu atraso. Foda-se a rotina!

Rodei Resende por 1/3 de hora até conciliar a pausa do cachorro com algum estabelecimento que vendesse comida. Depois fiz isso novamente... E la se foram mais dez minutos!

(Modo on. The Mars Volta perfurando os tímpanos).

Cheguei na academia e nenhum relógio me deu a oportunidade de ir para a esteira. Adeus aeróbico! Senti a pressão da correria e a total falta de vontade de encontrar o valor de X na equação estética.

Puder perceber o incômodo que invadia algumas coleguinhas enquanto eu usava o intervalo dos meu treino para escrever esse texto. Sabe-se la o porquê, mas existe gente que tem necessidade de corpo... De selfies que registram curvas em macacões justos... De um instagram para os mamilos e um tumblr para o fio de dental.

Ah sim! Me lembrei que somos indivíduos (lotados de particularidades) antes que essa percepção se transformasse em qualquer, diga-se, 'pré conceito' - o que não seria nada legal! Mas é que tenho um lado meio Vinicius de Moraes: "meu tempo é quando"... E, com os vinte diminutos que me restaram, só consegui pensar em banho. Sempre odiei cogitar a possibilidade de ficar fedida!

Talvez um dia eu apresente minhas particularidades e explique a necessidade que tenho de sentir paz no coração. Hoje, se alguém entender que guarda-chuva ainda tem hífen e serve pra se molhar, ja está de bom tamanho.

(Dalila Lemos)