quinta-feira, 12 de novembro de 2015

CARTA DE APELO

Querido Papai Noel,


Sou uma jovem ranheta de 27 anos. Tenho convicção de que escrever para o senhor já é algo ultrapassado (afinal, deixei se der criança muito antes de a Sandy seguir carreira solo e a Joelma descobrir que quem trai não é a lua). Mas, em contrapartida, tenho consciência de que eu não deveria me foder tanto enquanto ser humano.

O Natal se aproxima: uma época de renovação, em que devemos lançar um novo olhar para a realidade. E é justamente por isso, querido velhinho, que te deixo a par das minhas sinceras elocuções. Peço que analise, carinhosamente, minha real retrospectiva de 2015:




- Dei PT na Pista Premium Verde do show dos Foo Fighters.
- Fui homenageada por uma taxista do Uruguai (eu disse Uruguai) cantando “Vai buscar Dalila”. 
- Pintei o cabelo de loiro escuro e fiquei com as madeixas iguais a da Mortiça Adams.
- Rasguei meu tênis, tomei chuva e passei frio no Lollapalooza.
- Minha pronúncia em inglês, referente a um modelo de notebook, foi corrigida de forma errônea.
- Levei uma mordida na lateral da perna direita e me dirigi ao hospital para tomar antitetânica.
- Fui assaltada no ponto de ônibus quando faltava apenas três minutos para ir embora.
- Tomei benzetacil na nádega devido a uma infecção na garganta.
- Lutei bravamente contra a gracioca doença do carrapato que minha cachorra adquiriu.
- Decidi voltar para a coloração acobreada e saí do salão fazendo tributo ao Gugu Liberato.
- Presenciei lixeiros se menifastando com a versão em português de “Who Let the dogs out”.
- Identifiquei uma stalkeada cômica no meu instagram.
- Me entupi de antibióticos lastimosos e tive longas noites de insônia. 
- Fiquei presa na Dutra e segurei o xixi por, aproximadamente, duas horas.

Ressalto que estou disposta a citar mais exemplos, caso haja necessidade. No mais, espero ser compreendida e anseio por um agrado que recompense tamanha desventura.

Nos vemos em Dezembro.

Atenciosamente,

Mick Jagger

quinta-feira, 12 de março de 2015

GUARDA-CHUVA AINDA TEM HÍFEN E SERVE PRA SE MOLHAR

Quase uma hora dentro do ônibus, digerindo a capa da globo.com desde ontem. Pensei em tanta coisa, que me senti 'um estranho no ninho'. E olha que o meu cérebro costuma me contrariar, sem funcionar direito antes das dez da matina. Mas hoje não.

A mente sacudiu junto com as rodas sobre o paralelepípedo do bairro Paraíso e cheguei ao fim de um processo que e pude denonimar viagem. Viagem - nas suas amplas traduções.

Chegou a hora de passar pela roleta, guardar os óculos escuros e seguir em direção à academia. Mas eu não consegui concluir esse ciclo da forma que faço casualmente. Alguma coisa me fez encostar sobre o ponto de ônibus e pressionar o modo aleatório do MP3 até que algum som pudesse satisfazer minha audição.

(Eu estava em modo off).

Me distraí do celular e avistei um desconhecido com dificuldades de se equilibrar sobre as quatro patas. Magro. Sem nome. Sem dono. Sem espaço.

O Medo - que era dele - passou POR mim. O medo - que era meu - passou PRA ele. Um receio cheio de intensidade, lotado de ansiedade e que tem se transformado numa luta de Kill Bill dentro de mim. Mate o Bill e encontre a esperança, como se encontra uma agulha no palheiro (foi a razão quem disse).

Mas eu pude ver a pressa dos ponteiros e o tempo corroendo aquelas costelas em um fight contra meu atraso. Foda-se a rotina!

Rodei Resende por 1/3 de hora até conciliar a pausa do cachorro com algum estabelecimento que vendesse comida. Depois fiz isso novamente... E la se foram mais dez minutos!

(Modo on. The Mars Volta perfurando os tímpanos).

Cheguei na academia e nenhum relógio me deu a oportunidade de ir para a esteira. Adeus aeróbico! Senti a pressão da correria e a total falta de vontade de encontrar o valor de X na equação estética.

Puder perceber o incômodo que invadia algumas coleguinhas enquanto eu usava o intervalo dos meu treino para escrever esse texto. Sabe-se la o porquê, mas existe gente que tem necessidade de corpo... De selfies que registram curvas em macacões justos... De um instagram para os mamilos e um tumblr para o fio de dental.

Ah sim! Me lembrei que somos indivíduos (lotados de particularidades) antes que essa percepção se transformasse em qualquer, diga-se, 'pré conceito' - o que não seria nada legal! Mas é que tenho um lado meio Vinicius de Moraes: "meu tempo é quando"... E, com os vinte diminutos que me restaram, só consegui pensar em banho. Sempre odiei cogitar a possibilidade de ficar fedida!

Talvez um dia eu apresente minhas particularidades e explique a necessidade que tenho de sentir paz no coração. Hoje, se alguém entender que guarda-chuva ainda tem hífen e serve pra se molhar, ja está de bom tamanho.

(Dalila Lemos)