segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

UM POUCO DE VERDADE

O cigarro queimando. Alguns carros na rua. Foi tudo que eu pude escutar!

De repente, o mundo ficou em silêncio. Não sei em que proporção: nos passos brandos, na porta do bar, no vento que sopra leve às noites quentes.

Meu mundo: Quieto. Excessivo de falta. Num silêncio sem igual.

Apoveitei-me muda. Sentei-me no meio fio. Abaixei a cabeça e comecei a ter sentimentos que, há muito, não me pertenciam.

Eu deixei invisíveis aquelas coisas sem nome que costumam fazer barulho. O medo, a raiva, as suposições, a utopia e o raio que os parta! Sufoquei-as dentro de mim, enquanto apoiava a cabeça em uma de minhas mãos. Depois fechei os olhos e silenciei o movimento do ponteiro dos relógios.

Talvez tivessem passado cinco minutos; e não nove meses, como meu raciocínio se fadava a acreditar. Mas eu tive lembranças... Lotadas de ranger de porta, fechando e abrindo. Trancando. Deixando ficar.

E, de fato, ficou: um pouco de vinho tinto no fundo da taça, um pouco de música, um pouco de asfalto visto pela janela.

... Ficou um tanto quanto de mim num tanto quanto de outrem (que ficou na gaveta).

... Ficou o sorriso capturado pela transparência do vidro, um pouco de luz acesa e a coberta com cheiro de madrugada.

... Algumas marcas na parede; outras, na alma.

... O suor que se esparrama pelo cabelo, a tinta que escorre no chuveiro e um pouco de verdade – que me fez ficar em paz.

AI DE TI, JOÃO BIDU!

Duas horas em uma sala de cinema, absorvendo cosmo-fragmentos e pensando qual o tipo de tonalizante a Saori usa nas madeixas. É claro que minha cabeça ficou uma loucura! Parece que fui influenciada pelos astros a buscar o item chave da minha desordem. 

Poderia ser a ausência de uma bússola na mochila... Ou talvez uma borra de café derramada no Mapa Mundi... Quem sabe até uma alteração inoportuna na Fórmula Fundamental da Teoria dos Erros...

Mas não. Quisera eu colocar a culpa na maldita cigana que insistiu na ideia estúpida de me falar coisas estúpidas que estavam estupidamente subentendidas na minha mão direita. Que dó! Não era ela a responsável! Nem pela calosidade que envolvia meu dedo médio e pressionava a necessidade de mandá-la tomar no cu, tampouco pelas comutações da ciência.

O réu era a União Astronômica Internacional que, em Agosto de 2006, fez o favor de criar a resolução 5A. Desde então, Plutão deixou de ser um planeta e o horóscopo perdeu sua dignidade na 8ª casa zodiacal.

Não bastasse eu ser fruto de uma reprodução carnavalesca. Tive que nascer justamente no dia em que o Exército invadiu a Companhia Siderúrgica Nacional e transformou Volta Redonda na cidade do caos. Não bastasse nem isso: nasci escorpiana... Regida por uma esfera do sistema solar que há 84 anos é motivo para encheção de saco.

Resumindo: o patinho feio gravitacional, com órbita elíptica e dimensões insignificantes, sempre exerceu influências sobre a minha pessoa. Influências não tão lúcidas, eu diria (como se houvesse necessidade de dizer). Mas, de certo modo, ele agia com segurança, pois conhecia sua identidade: era um planeta. 






O mísero Plutão entrou em crise desde que teve sua definição astronômica alterada. Situação constrangedora! Um “disse-me-disse-redisse-não-disse-mais” científico que ultrapassou os limites espaciais. 

Primeiro, planeta. Depois, planeta-anão. Aí veio resistência de classificação, pressão política, debate, abaixo assinado, protesto, identificação sob o número 134340, publicação de artigo em Harvard, confusão em sala de aula, matéria no G1, análise em blogs... Por sua vez, os humanos regidos pelo pobre coitado se desorientaram nas entrelinhas do horóscopo e entraram num processo recorrente de desequilíbrio e indagações existenciais.

Eu era a prova disso: uma cobaia dos traumas psicológicos provocados neste sujeito indefinido. Ora me mantinha lúcida, ora coava o molho de tomate para eliminar qualquer vestígio de cebola (entenda, eu amo cebola!). Se em determinada ocasião eu analisava Stanley Kubrick, em outros momentos eu traçava correlações entre o cavaleiro de Fênix e os terráqueos.

Ai de ti, João Bidu! Como explicar essa bagunça de poder de ação e expressão de comportamento que os astros exercem nos signos, mediante à situação delicada já exposta acima?

A essa altura do campeonato, Plutão deve estar em prantos, assistindo à órbita dos seus amiguinhos, tentando descobrir se esses cientistas desocupados não tinham nada mais útil para fazer da vida. 

Mas que desgraça! Podiam ter realizado uma conferência para discutir se o som que sai do nariz (vulgo boca) da Anitta é música ou não. Imagina só: “de acordo com os novos critérios da resolução, todo ruído propagado de modo ominoso, com ou sem características anasaladas  e independente do tempo de disseminação ou playback, passa a ser chamado de música-anã”. 

Seria lindo! Mas não... É obvio que eles não perderiam tempo com aquela fanha... Afinal, faz muito mais sentido pegar Plutão pra Cristo. E eu ainda me questiono: por que, meu Deus, por quê? 

Penso que, se um humano nasce com nanismo, não deixa de ser reconhecido como tal. Um humano anão continua incluído na espécie animal do gênero Homo. Ele não passa a ser um humanoide, humano-anão ou Pequeno-Polegar por causa dos seus centímetros a menos. Ainda digo mais: anão é tão normal que faz strip tease e se reproduz em despedidas de solteiro. 












Li em algum lugar que, assim como urano e netuno, Plutão representa uma significativa fonte de mudança e possui uma energia intensamente transformadora. Portanto, já passou da hora de dar um fim nessa palhaçada! Que esses cientistas ociosos lavem roupas ou capinem lotes... Mas deixem meu regente em paz! Acalmem os nervos do cosmo, antes que meu fim seja um cosplay vergonhoso Jéssica Rabitt.