Nunca tive uma postura contra a estética. Pelo contrário: eu me cuido, eu treino, eu como clara de ovo no café da manhã, eu vou à nutricionista e à esteticista... Enfim. Eu dou uma moral pra "carcaça", porque gosto de me sentir bem.
Mas não faço da BARRIGA INVERTIDA um sonho. Não fico sem dormir porque meu tríceps não é DEFINIDO ou meu abdômen não tem GOMOS. E hoje em dia, as coisas andam tão estereotipadas que até perdem a graça.
Sabe essa foto (que ilustra o texto)? Encontrei no Google, depois da tentativa de busca com as palavras “corpo + normal”. Não foi uma surpresa que ela estivesse misturada a imagens altamente produzidas de personalidades como Gisele Bündchen, Cláudia Leitte e Débora Secco.
Entre as sugestões para novas buscas, lá estava: CORPO MAIS PERFEITO DO MUNDO! Cliquei. Ossos destacados, fio dental na bunda de silicone, decote no peito de silicone, close na boca de botox e, para os homens, ombros e poses de Johnny Bravo. Conclusão: você escolhe se quer ter o corpo MAGRO mais perfeito do mundo ou o corpo SARADO mais perfeito do mundo... Mas o SEU corpo (aquele em que você nasceu) nunca vai ser o mais perfeito do mundo porque você não se permite ser algo a mais que um produto de prateleira.
A busca por padrões leva muita gente à paranoia e aos péssimos diagnósticos de saúde física e mental. E, nesse momento, há um engano se alguém me julga por não ter vivido uma experiência do tipo. Sim! Entre os meus dezesseis e dezessete anos de idade eu me entupi de medicamentos com ações anorexígenas, sobrevivi sem algumas refeições e me vi diante de uma vigorexia que me fazia caminhar duas horas por dia e ir à academia logo em seguida. Hoje eu prefiro escutar música, ler um livro, tomar um chopp e até capinar um lote.
Hoje eu prefiro perder 30 minutos do meu dia apenas pra dizer o quanto eu gostaria que SHAPE significasse tábua de skate e que as pessoas se libertassem, pra ser o que realmente são.
(Dalila Lemos)