Não sou feita de arrependimentos. Talvez, de alguns traços tortos ou atos inconsequentes. Mas não gosto de subtrair o sabor do mundo: os sentimentos, os anseios, as loucuras, os erros.
Se meu coração bate, se o sangue corre e o cérebro funciona, significa que estou viva. Tenho a existência como privilégio e, então, por que não existir?
Sinto necessidade de consumir a vida para que ela não me consuma. Gasto dinheiro para que ele não me gaste, esgoto minhas energias para que elas não me esgotem, acabo com o medo para que ele não acabe comigo. Vivo uma disputa constante de cores, formas, ritmos e passos.
Meu extremo é o meio: é o que penso entre toda fantasia, é o que engulo entre tudo que mastigo, é o que escolho entre tanta opção.
Penso no amanhã, mas não o troco por hoje. Não aceito o céu como recompensa nem palavras como promessas. O meu desgosto é não sentir o gosto. O meu desejo é desejar o novo e, de novo, sentir o sabor.
(Dalila Lemos)